A Polícia Federal (PF) prendeu na madrugada desta terça-feira (13), em um hotel na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Hugo Pimenta, um dos homens condenados por contratar pistoleiros que executaram fiscais de trabalho escravo na Chacina de Unaí, em 2004.
A PF informou que Pimenta estava foragido, tinha um mandado de prisão em aberto e portava um passaporte falso. Empresário do agronegócio, ele era procurado pelas autoridades desde setembro de 2023. O homem foi condenado a 96 anos de prisão, mas teve a pena reduzida para 41 anos.
Além Pimenta, José Alberto de Castro também foi condenado por ter contratado os atiradores. Ambos teriam intermediado o crime a mando de Antério Mânica, ex-prefeito da cidade, e o irmão dele, Norberto Mânica. Norberto segue foragido da Justiça, e Antério se entregou em setembro de 2023.
No crime que ficou conhecido como Chacina de Unaí, foram assassinados a tiros os auditores do trabalho Nelson José da Silva, João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira.
As vítimas faziam uma fiscalização de rotina contra o trabalho escravo em Unaí (MG), cidade que mais produz feijão no Brasil. Os três atiradores, Erinaldo Vasconcelos, Rogério Allan e William Miranda, também foram condenados e estão presos desde 2004.
Em 2009, o Estado brasileiro estabeleceu o dia 28 de janeiro como o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, em homenagem aos mortos.
Política, agronegócio e impunidade
Norberto Mânica, mandante confesso da chacina e conhecido como "Rei do Feijão", é dono da empresa Agropecuaria Ivae. Atualmente foragido, ele pertence a uma família de fazendeiros que produz grãos em Unaí, noroeste de Minas Gerais. O município é o principal produtor de feijão do país. As informações são do De Olho Nos Ruralistas.
Também condenado como mandante, o irmão de Norberto, Antério Mânica (2005-2013), ex-prefeito de Unaí, declarou à Justiça Eleitoral em 2008 ter uma fortuna de R$ 19,2 milhões, além de quarenta áreas rurais na sua lista de bens.
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Bob Machado, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), disse que a chacina envolveu "mandantes poderosos, com muito poder econômico, que se utilizaram de recursos intermináveis perante a justiça para permanecerem durante 20 anos soltos. Enquanto os familiares desses fiscais, os filhos dos nossos colegas cresceram sem os pais e as esposas sem os maridos".
A declaração foi dada em 30 de janeiro, durante um ato público que marcou os 20 anos da Chacina e pediu justiça. A manifestação reuniu mais de 70 funcionários da auditoria fiscal do trabalho e aconteceu em frente ao Ministério do Trabalho e Emprego, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF).
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O Brasil de Fato não conseguiu localizar a defesa de Hugo Pimenta. O advogado dele disse ao portal g1 que vai pedir que ele responda em liberdade.
Edição: Nicolau Soares