Rio de Janeiro

FOLIA SEGURA

Violência no carnaval é consequência da falta de planejamento do poder público, diz especialista

Casos de assédio, furtos, assaltos e insegurança tendem a aumentar nesta época do ano

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Todos os anos, milhões de pessoas vão às ruas para curtir a maior festa do Rio de Janeiro: o carnaval. - Joédson Alves/Agência Brasil

O carnaval está chegando e todo mundo já está animado, seja organizando a lista de blocos ou preparando as fantasias, mas a preocupação que todo folião tem em comum é com a segurança. A maior festa do país faz girar mais de R$ 4 bilhões na economia da cidade do Rio de Janeiro, mesmo assim, falta solução do poder público para a violência.

A pesquisadora e doutora em Comunicação, Flávia Magalhães, explica que a questão da violência no carnaval é historicamente um problema para a gestão da cidade e do estado. 

“A gente precisa ampliar o nosso debate sobre segurança e quando eu falo em ampliar eu estou direcionando essa convocação ao poder público, mas também à própria imprensa, à  academia, aos integrantes dos blocos e de outros coletivos culturais carnavalescos", aponta Magalhães que complementa:

"Quando a gente fala em segurança a gente tem que pensar que não está falando só do assalto a celular, a gente está pensando em tentar articular espaços mais sustentáveis dentro da cidade”.

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Para ela, a falta de diálogo dos gestores públicos com as pessoas que fazem e vivem de carnaval é o grande causador dessa insegurança nos blocos de rua. 

“Essa interdição se dá ao colocar regras impossíveis de serem cumpridas por grupos e coletivos pequenos, e pela falta de fomento público. Por exemplo, a Prefeitura no ano passado não lançou nenhum edital direcionado aos blocos de rua. E, por último, você tem um certo discurso que pretende relegar esses blocos a um estado elitista, um status de baderna, de desorganização, e a gente percebe que esse discurso se repete. Historicamente o carnaval de rua é tomado enquanto essa festa incivilizada”, ressalta.

A pesquisadora reforça que não se pode normalizar viver situações de insegurança só porque é carnaval. 

“A gente faz disseminar um discurso de que você precisa usar doleira, você não pode ficar até tarde no bloco, você precisa ficar sempre atento e a gente acaba normalizando esse discurso sem perceber de que precariedade ele advém. Ele advém de uma precariedade da gestão pública, da iniciativa privada e da própria imprensa que não olha para essas manifestações de uma forma mais aprofundada”, detalha Magalhães. 

Segurança para as mulheres

O carnaval vai muito além de uma festa para o lazer, ele faz parte da cultura da cidade do Rio. A jornalista e professora universitária, Andréa Estevão, pesquisa segurança das mulheres nesta data, e para ela, a falta de comprometimento do poder público faz com que as foliãs precisem criar suas próprias estratégias.

“Além de oferecer um policiamento condizente com o tamanho da festa, coisa que não acontece, deveriam haver profissionais da ordem pública mulheres que seriam capazes de entender melhor essas sutilezas e acolher essas mulheres diante de certas situações”, afirma.

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Andréia acredita que outro grande problema é a falta de preparo para os profissionais de segurança trabalharem especificamente com o carnaval.

“A ordem do carnaval é a ordem festiva, a ordem festiva é diferente da ordem cotidiana, então esse profissional tem que estar preparado para lidar com essa nova lógica de ocupação da cidade, esse contingente, com a sensibilidade e preparo de quem entende o que é a festa. No país que é considerado o país do carnaval como não existe uma orientação para os profissionais de segurança que vão atuar?”, finaliza a professora.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura do Rio de Janeiro para entender quais as estratégias de segurança serão adotadas no carnaval deste ano, mas eles responderam que essa logística é feita pelo governo do estado. Já o governo do estado do Rio não se manifestou.

Edição: Jaqueline Deister