Eleições 2024

PL indica para vice de Nunes ex-comandante da Rota que liderou invasão armada a sindicato em SP

Ricardo Mello Araújo presidiu a Ceagesp e aterrorizou servidores do entreposto: “Eu sou o juiz, quem manda aqui sou eu”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Mello Araújo com os filhos em unidade de Clube de Tiro da mesma empresa que inaugurou uma unidade na Ceagesp em sua gestão - Foto: Reprodução/Instagram

Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, indicou o Ricardo Nascimento de Mello Araújo, coronel da reserva e ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, parte do batalhão de choque de SP), para ser vice na chapa encabeçada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputará a eleição à Prefeitura de São Paulo neste ano.

Mello Araújo também presidiu a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em São Paulo, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Por volta de 8h, no dia 9 de dezembro de 2020, o ex-comandante da Rota, que completava apenas 40 dias na presidência da estatal, decidiu fazer uma visita surpresa ao Sindicato dos Carregadores Autônomos (Sindicar) e levou consigo um grupo de assessores armados.

Em entrevista ao Brasil de Fato, em março de 2023, o atual presidente do sindicato, Mário Souza, relembrou o episódio. “Ele (Mello Araújo) entrou na frente, já gritando que era pra todo mundo colocar as mãos para o alto...O coronel enquadrou o presidente do Sindcar, um senhor de 71 anos na época, fez ele levantar os braços e o revistou. Fizeram a invasão, uma coisa horrível. Entraram e começaram a revistar todos os trabalhadores. Eles se apresentavam como policiais, mesmo estando todos na reserva.”

O Brasil de Fato teve acesso às imagens da invasão ao sindicato (ver galeria abaixo) e as divulgou na época. É possível ver Mello Araújo, de camisa branca, à frente do grupo. Em algumas fotos, assessores do presidente apontam as armas para os trabalhadores. Os sindicalistas afirmam que o presidente da Ceagesp e seus assessores alegavam que haviam armas escondidas no espaço.

Quando foi interpelado pelo advogado do sindicato, Mello Araújo disse: “Eu sou juiz, quem manda na Ceagesp sou eu, não tenho que pedir mandado para ninguém”. As imagens integram um dossiê com denúncias contra a gestão do coronel da reserva à frente da estatal.

Clube de Tiro

Em fevereiro de 2023, o Brasil de Fato revelou que a Ceagesp, na gestão de Mello Araújo, autorizou a instalação de um clube de tiro em sua sede, na Vila Leopoldina, Zona Oeste da capital paulista, em julho de 2022. O espaço funcionou até 22 de novembro do mesmo ano.

A Seven Shooting Academia de Tiros e Comércio de Importação Ltda, que usa o nome fantasia de G16 Universidade do Tiro e Caça Premium, venceu um edital de locação da sala 12 da Ceagesp, que tem 600 metros quadrados, para a construção de um clube de tiro e uma loja de armas dentro do espaço.

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A abertura do espaço é motivo de uma denúncia apresentada ao Ministério Público Federal (MPF) pelo deputado estadual Mário Maurici (PT-SP), que presidiu a Ceagesp por seis anos e questiona a construção de um clube de tiro dentro do entreposto, que tem por atividade a comercialização de flores, frutas, legumes, pescados e verduras.

“Você tem no regulamento da Ceagesp a previsão de atividades atípicas dentro do entreposto, que não a vendas de gêneros alimentícios, mas que estão ligadas a essas atividades, como embalagens de produtos ou produção de caixas, por exemplo. Mas nunca um clube de tiro. Qual a ligação dessa atividade com a Ceagesp?”, perguntou Maurici.

No texto do edital vencido pela G16, a Ceagesp explica o que seriam as "atividades atípicas" aceitas na sede da estatal. “Comercialização de produtos e prestação de serviços auxiliares ligados às atividades típicas como, por exemplo, venda de produtos em equipamentos apropriados e os demais não enquadrados como típicos.”

Em resposta ao Brasil de Fato, a Ceagesp afirmou que “as áreas típicas são aquelas destinadas à comercialização de produtos hortifrútis. Já as áreas atípicas estão relacionadas a serviços, como bancos, restaurantes, chaveiros, etc., que funcionam no entreposto para atender aos públicos interno e externo da Ceagesp. Todas as licitações, de áreas típicas e de áreas atípicas, são públicas e abertas a todos os interessados que atendam aos requisitos estabelecidos nos editais.”

Militarização

Na gestão de Mello Araújo, dos 26 cargos comissionados para empregados sem vínculo com a Administração Pública disponíveis na Companhia, 22 foram ocupados por policiais militares.

Dos 22 policiais militares, oito estavam lotados no gabinete da presidência, divididos entre os cargos de assistente executivo e assessor técnico. Todos pediram demissão com Mello Araújo no dia 6 de janeiro de 2023.

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Além dos PMs, Mello Araújo nomeou o ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, para o cargo de diretor de operações, com salário de R$ 30.530. A contratação ocorreu em 4 de janeiro de 2021, dois meses após o ex-comandante da Rota assumir presidência da Ceagesp.

Edição: Rodrigo Durão Coelho