As iniciativas comunitárias têm feito a diferença na vida de muitos brasileiros e brasileiras. Desde redes de solidariedade para o apoio de pessoas em situação de vulnerabilidade social, combate à desinformação, valorização da cultura e dos saberes locais até a defesa do meio ambiente e bem-viver. Porém, as organizações comunitárias ainda esbarram na questão da sustentabilidade como um dos desafios centrais para a manutenção das suas atividades.
Na zona rural do município São José do Vale do Rio Preto, no interior do estado do Rio de Janeiro, um projeto social voltado para a leitura há 12 anos tem feito o diferencial na vida de crianças e adolescentes no bairro de Morro Grande. O Centro Cultural Novos Horizontes (CCNH) ocupa o prédio onde funcionava uma antiga escola na comunidade, a ONG possui uma biblioteca com um acervo de cerca de sete mil livros, promove aulas de música gratuitas para a comunidade e eventos culturais como mostras de dança, teatro e shows.
Ao longo de mais de uma década, muitas crianças do bairro rural passaram pelo projeto. A estudante de Direito, Larissa dos Santos, 23 anos, foi uma delas. Desde criança ela frequenta o espaço e foi a partir do CCNH que teve contato com expressões artísticas que contribuíram para a sua formação pessoal.
“Eu não tinha o acesso a essas formas diferentes de expressão humana, tipo a própria dança, aqui foi o meu primeiro contato. O teatro, teve apresentação da peça ‘O Corcunda de Notre Dame’ [na biblioteca], aqui em São José [do Vale do Rio Preto] nunca teve isso. Na biblioteca sempre teve uma discussão muito aberta e acessível que também influenciou muito na minha escolha de faculdade”, conta a estudante e dançarina que hoje atua apoiando os eventos culturais do projeto.
Itinerância e palhaçaria
A itinerância é uma estratégia utilizadas pelo projeto para atrair o público para a biblioteca comunitária. A ideia consiste em reunir um grupo de palhaços, que compõe a chamada "Trupe Inventada", em uma “prancha” – veículo utilizado por agricultores locais para o transporte de legumes, verduras e insumos- e sair pelo bairro distribuindo livros e gibis para crianças, jovens e adultos sempre com muita brincadeira, ciranda e poesia.
O psicólogo e um dos fundadores do CCNH, Michel Cabral, dá vida ao palhaço Gasolina. Ele conta que a proposta é uma forma de convidar a população local a ocupar a biblioteca e participar das atividades culturais.
“A ideia é poder trazer mais leitores e poder também levar o lúdico para esse público todo aqui da zona rural. A nossa intenção não é só que a criança receba o livro, mas que ela tenha, através dessa mediação, um contato diferenciado. Que ela possa criar um vínculo com aquela história”, explica Cabral.
Palhaços em cima da "prancha" durante itinerância pelo bairro de Morro Grande / Foto: Reprodução
Coletividade e novos sonhos
A mobilização de apoiadores e da comunidade é essencial para manter o CCNH de portas abertas. O último recurso que entrou para a ONG foi em 2020 a partir de um edital público. Desde então, o projeto sobrevive do trabalho voluntário, de associados que apoiam mensalmente a iniciativa e de bingos e rifas que ajudam na manutenção de atividades básicas como a abertura do espaço, a limpeza e o reparo dos instrumentos musicais, por exemplo.
A expectativa é que em 2024 seja um ano de realizações para o Centro Cultural Novos Horizontes. A ONG foi uma das bibliotecas selecionadas pelo Edital Prêmio Pontos de Leitura 2023.
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O edital, promovido pela Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli), destinará R$ 9 milhões, sendo R$ 30 mil para cada biblioteca comunitária escolhida. De acordo com o Ministério da Cultura, a iniciativa tem o objetivo de reconhecer e premiar bibliotecas comunitárias que desenvolvam ações de promoção da leitura.
Para o diretor do CCNH, Rodolpho Branco, o edital permitirá valorizar as ações que já acontecem no espaço, como as aulas de música para crianças, a abertura da biblioteca uma vez mais na semana, atualmente o local funciona somente aos sábados para a retirada de livros. De acordo com Branco, a intenção nesta nova etapa é realizar atividades da biblioteca em conjunto com a escola municipal do bairro que atende estudantes do Ensino Fundamental I.
“Com certeza a equipe entende o valor da biblioteca e tudo o que ela representa, mas ainda assim, a biblioteca fica limitada pela falta do recurso, ela sobreviveu, mas não pôde expandir durante este tempo. Agora, com este edital, ela poderá ampliar seus trabalhos, atingir um público maior, inclusive os alunos que estão no início da vida escolar e terão mais acesso ao universo cultural e literário”, completa Branco que mora em Morro Grande e é professor de Biologia.
Edição: Clívia Mesquita