O ano de 2024 mal começou, muitos parlamentares e lideranças ainda estão de férias, porém o debate já está quente no círculo dos partidos e militantes de esquerda.
A sinalização do nome para a prefeitura de Curitiba de Luciano Ducci (PSB) com apoio nacional do presidente Lula e da corrente majoritária do partido (CNB), cria polarização com as correntes do PT e com movimentos que exigem uma candidatura ligada às pautas populares.
No interior da federação partidária, o PCdoB sinaliza apoiar a decisão da frente ampla, embora o debate ainda esteja aberto nesse primeiro trimestre do ano. O PV fala em aprofundar o assunto ainda em fevereiro.
Candidatura ampla ou própria?
No âmbito da esquerda, o primeiro partido a definir candidatura própria e apontar um nome é o Psol, cuja corrente majoritária indicou a professora Andrea Caldas e novos nomes podem surgir até abril. O Psol se recusa a apoiar a candidatura Ducci, embora fale em possível unidade no caso de outros nomes.
No restante das organizações, o debate interno deve se dar até abril no PCdoB e no PT. Haverá espaço para uma frente popular, refletindo as principais lutas e pautas da cidade?
“Acredito que dificilmente vamos fazer algo diferente, por conta da governabilidade. Os acordos estão bem construídos nacionalmente. Trata-se do término da amarração ainda de 2022, na sustentação da candidatura do Lula”, aponta ao Brasil de Fato Paraná dirigente da corrente majoritária do PT.
Ele enxerga como consolidada a possibilidade de apoio a Ducci, embora reconheça que se apresentem os nomes “dos deputados Carol Dartora e Zeca Dirceu, tem o (Felipe) Magal, sem mandato, mas são candidaturas que não estão ganhando terreno”, avalia. Para o dirigente, o desafio agora é fazer com que Ducci defenda explicitamente o governo Lula nas eleições e também pautas essenciais do partido. Seria necessário uma candidatura com “compromissos”, como aponta.
PCdoB: Frente ampla, mas com programa
Elton Barz, da direção estadual do PCdoB e vice-presidente da federação partidária, sinaliza que, de forma geral, há consenso no partido em torno da construção de uma frente ampla, com Ducci. Para ele, o debate está aberto no partido até meados de abril, e demanda também debate no interior da Federação.
“O Paraná, além da questão do bolsonarismo como um todo, as últimas eleições nos tiraram de boa parte das grande cidades. Também dentro da nossa avaliação perdemos as ruas, então defendemos uma frente ampla onde é possível. Mas, em Londrina, por exemplo, teremos candidato”, declara.
Porém, Barz ressalta que há um debate em curso sobre nomes. E que mesmo a frente ampla demandaria um “programa mínimo” de medidas para a cidade.
“O movimento não é de largada, é de chegada. É legítimo que os partidos coloquem seus candidatos. Temos que ter uma aliança numa frente ampla com denominador na questão programática”, diz, citando o tema da tarifa zero e da questão tributária.
Dartora e o levante das lutas
No plano político e teórico, o atual embate se traduz entre a escolha de uma frente ampla, com suposta viabilidade eleitoral, para derrota de nomes ligados ao neofascismo – debate resgatado no interior da esquerda com a eleição de Bolsonaro. No fundo, a pergunta central é: qual o leque de alianças para derrotar o conservadorismo?
Porém, outras correntes defendem que para isso é necessário justamente uma frente popular, que conte com a energia e as pautas de jovens lideranças que ascenderam no último período, caso dos exemplos de Carol Dartora, Renato Freitas, Giorgia Prates, do PT, e Goura, do PDT. No fundo, a pergunta central é: como derrotar o conservadorismo e gerar maioria na classe trabalhadora se não for com um programa de mudanças estruturais?
Na conversa com o Brasil de Fato Paraná, Carol Dartora é bastante enfática na defesa de sua candidatura. De acordo com ela, há um consenso para essa defesa dentro da sua corrente do PT, Democracia Socialista (DS),
“A gente entende que temos toda a condição de pautar uma candidatura do PT – estou pautando isso dentro do partido. Precisamos de uma decisão em abril. Infelizmente, a nacional possui amarras com o PSB de São Paulo, colocando a prefeitura de Curitiba como moeda de troca”, critica.
A deputada federal, em franca ascensão desde a votação de 2020 para a Câmara de Curitiba, aponta o que considera racismo institucional, quando nomes como o seu e o de Renato Freitas “não estão nas conversas e articulações. Dentro de uma institucionalidade que não nos contempla, tenho feito crítica nacionalmente”, aponta.
Com isso, aponta Dartora, a partir dessa pressão, afirma que a direção nacional do partido pode cogitar a hipótese de duas candidaturas, apontando um nome “raiz”, no primeiro turno, e podendo aderir à frente ampla no segundo turno das eleições.
Dartora enxerga que, ao contrário de outros momentos, Curitiba tem forjado novas lideranças do movimento e da juventude negra, que têm tido viabilidade eleitoral. Além disso, desde o período da pandemia há um aprofundamento dos problemas sociais e das lutas por moradia, gerando uma base de apoio social maior por mudanças.
“Nessa representatividade da população negra, a pauta que mais mobiliza Curitiba hoje é a pauta antirracista, estamos vivendo o maior levante antirracista do Brasil, comparado a outros estados”, defende.
Goura: "unidade e sem dogmatismo"
Embora no marco de outra federação partidária, que envolve PDT, PSB e Solidariedade, porém preocupado com unidade e debate na esquerda, Goura (PDT) afirma ao Brasil de Fato Paraná que seu nome está à disposição. No entanto, fala em um debate amplo na esquerda.
“Há que se ter uma estratégia mais ampla, com candidaturas viáveis, sem perder lastro de programa e de cidade, buscar este equilíbrio, apresentar propostas. O foco são as cidades. E ter com muita nitidez e abertura, não dogmática, a construção de leque que sustente esse projeto”, inicia a conversa.
Em 2020, Goura ficou em segundo lugar nas eleições municipais, com 13,26% e 110.977 votos. Ele reconhece o chamado conservadorismo da capital na votação a Bolsonaro, porém coincide com Dartora sobre o momento ser mais favorável para o pensamento progressista.
“O contexto está diferente. Estou pré-candidato, para apresentar este acúmulo que a gente carrega. A esquerda não precisa de divisão e sim de diálogo, com Ducci, Arilson (PT), Psol, Rede, PC do B e PV, em julho é o momento mais adequado para tomar as melhores decisões. Temos grandes quadros nesses partidos, o que temos é que manter as pontes de diálogo”, convoca.
Partido Verde: até aqui, Maria Letícia
Raphael Rolim de Moura, presidente do Partido Verde, afirma à reportagem que: “Ainda não amadurecemos a discussão no PV. Reuniremos a executiva no começo de fevereiro para debater. Temos como pré-candidata à prefeita a Maria Letícia. Vamos ver como avançamos”, resume.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini