Há uma semana bicicletadas em memória à artista circense, cicloviajante e bonequeira Julieta Hernández, 38 anos, vítima de feminicídio em dezembro do ano passado no município de Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas, aconteciam por cidades em todo o Brasil e também no exterior. Além dos pedidos de justiça, os atos denunciaram o machismo estrutural e a violência contra a mulher que segue em números alarmantes pelo território nacional.
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Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que no primeiro semestre de 2023, 722 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, um crescimento de 2,6% comparado com o ano anterior. O levantamento destaca ainda que 34.428 casos de estupro e estupro de vulnerável de meninas e mulheres foram registrados no mesmo período, um aumento de 16,3% em relação a 2022.
O caso de Julieta entra para as estatísticas como símbolo de um país em que o direito de existir plenamente enquanto mulher segue violado.
Quem foi Julieta?
A artista venezuelana era feminista e viajava sozinha de bicicleta realizando apresentações circenses pelo interior do país. Em sua passagem pelo Brasil, fixou residência no Rio de Janeiro, onde estudou no Centro de Teatro do Oprimido (CTO) na capital fluminense e também na Escola Livre de Palhaços (ESLIPA), realizou experimentações artísticas e viajou pelo interior do estado levando alegria e brincadeiras da palhaça Miss Jujuba.
“Julieta veio ao Rio de Janeiro em busca de formação em Teatro do Oprimido. Em 2019, participou de um curso em espanhol oferecido pelo CTO - Centro de Teatro do Oprimido, se conectando a ações com ativistas feministas do movimento de imigrantes que buscavam formas de usar a metodologia. Julieta foi uma das incentivadoras da criação do Grupo Magdas Migram em parceria com companheiras de diferentes países da América Latina”, diz uma publicação na rede social do CTO.
A artista estava viajando desde 2019 de bicicleta do Rio de Janeiro em retorno para a cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela, onde a sua mãe mora. No dia 23 de dezembro ela parou de responder mensagens de amigos e familiares, uma grande mobilização nas redes sociais para saber do paradeiro de Julieta foi iniciada pelo coletivo “Pé Vermêi”, composto por mulheres cicloviajantes e artistas circenses.
Em 5 de janeiro encontraram o corpo da venezuelana nos arredores de uma hospedagem precária no município de Presidente Figueiredo, a 126 quilômetros de Manaus, onde a cicloviajante hospedou-se. A artista foi vítima de violência sexual, roubo e agressões antes de ser assassinada.
De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, Thiago Agles da Silva, 32 anos e Deliomara dos Anjos Santos, 29 anos, cometeram o crime. O casal morava de favor no local e cobrava R$ 10 para a pernoite de viajantes. A investigação aponta que Julieta foi assassinada na noite do dia 23 de dezembro. O corpo da artista foi sepultado em Puerto Ordaz no dia 12 de janeiro.
Edição: Clívia Mesquita