Na decisão que autorizou a realização de buscas nos endereços do líder da oposição na Câmara dos Deputados, Carlos Jordy (PL) o ministro Alexandre de Moraes transcreve um diálogo de Whatsapp identificado pela Polícia Federal entre o parlamentar e uma liderança golpista que pede ao deputado um “direcionamento” em meio aos bloqueios de rodovias um dia após o segundo turno das eleições de 2022.
“Bom dia meu líder. Qual direcionamento você pode me dar? Tem poder de parar tudo”, indagou o manifestante golpista Carlos Victor, servidor da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e que a PF identificou como sendo uma liderança da extrema direita na região de Campos dos Goytacazes (RJ). Em resposta, o deputado Carlos Jordy diz: “Fala irmão, beleza? Está podendo falar aí?”.
Na sequência, Carlos Victor confirma que pode falar. O relatório da PF e a decisão do ministro não deixam claro se o deputado telefonou para ele.
“Ressalto que nessa data estavam em prática os bloqueios de rodovias em todo Brasil, inclusive em Campos, e no diálogo acima Carlos Victor chama o parlamentar de ‘meu líder’, e pede orientação quanto a ‘parar tudo’, sendo, portanto, fortes os indícios de envolvimento de Carlos Jordy nos delitos apurados na presente investigação, mediante auxílio direto na organização e planejamento”, assinala o ministro Alexandre de Moraes na decisão de 4 de janeiro deste ano que autorizou as buscas contra o deputado e outros 9 investigados, incluindo Carlos Victor.
Além deste diálogo, a Polícia Federal identificou 276 registros de conversas de Whatsapp no celular de Carlos Victor 6 com o líder da oposição na Câmara, a maioria deles entre agosto e outubro de 2022, durante as eleições do ano passado. Os registros contabilizados pela Polícia Federal levam em conta mensagens de texto, áudios, anexos e ligações de Whatsapp.
Conversa com foragido
Além da conversa em que pede orientação ao deputado em meio a manifestações bolsonaristas, a Polícia Federal também identificou que o deputado entrou em contato com Carlos Victor por telefone em 17 de janeiro de 2023, um dia após ser expedido um mandado de prisão contra o manifestante e ele era considerado foragido da Justiça devido a seu envolvimento com os atos de 8 de janeiro.
“Como parlamentar, representante da população brasileira, ao tomar conhecimento do destino do foragido seu dever como agente público seria comunicar imediatamente a autoridade policial”, afirma a Polícia Federal na representação que pede a realização de buscas nos endereços de Carlos Jordy, incluindo o gabinete dele na Câmara dos Deputados.
A Polícia Federal em Campos dos Goytacazes chegou ao nome de Carlos Victor em uma investigação anterior aos atos de 8 de janeiro, para apurar as paralisações de rodovias que ocorreram na região em 1 de novembro de 2022, um dia após Lula vencer Bolsonaro na eleição.
No ano passado, ele foi preso pela Operação Ulysses, acusado de financiar ônibus que transportaram golpistas a Brasília no 8 de janeiro. Com o avanço das investigações, a PF quebrou os sigilos de Carlos Victor e teve acesso às conversas de Whatsapp em seu celular que mostraram que ele administrava mais de 15 grupos de extrema direita no aplicativo e também organizava manifestações radicais na região de Campos.
Conhecico como “CVC”, ele foi assessor do deputado estadual Filipe Poubel (PL) na Alerj e, em 2020 tentou se eleger vereador na cidade de Campos dos Goytacazes, tendo sido eleito primeiro suplente do partido Republicanos.
Na rede social X (antigo Twitter), Jordy criticou a medida autorizada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes. "Uma medida autoritária, sem fundamento, sem indício algum, que somente visa perseguir, intimidar e criar narrativa às vésperas de eleição municipal."
Edição: Vivian Virissimo