MAR VERMELHO

Resistência anti-Israel no Iêmen pode fechar uma das principais rotas marítimas do mundo

‘Estamos tentando ajudar os palestinos’, diz grupo do Iêmen que tem reagido às hostilidades israelenses em Gaza

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'Estamos tentando ajudar os palestinos', diz alto funcionário Houthi sobre ataques no Mar Vemelho - Marinha dos EUA

O grupo Houthi, do Iêmen, declarou nesta terça-feira (19/12) que irá realizar ataques diários no Mar Vermelho após os Estados Unidos anunciarem uma "operação multinacional" na região, visando "proteger o comércio marítimo". A informação é da emissora catari Al Jazeera.

À emissora, um dos porta-vozes do movimento afirmou que as ações contra navios cargueiros é em defesa do povo palestino, que está sendo bombardeado desde 7 de outubro pelas Forças de Defesa de Israel (IDF). Ainda de acordo com o representante, os Houthis consideram que qualquer embarcação que entre nas ´´aguas territoriais do Iêmen "serão um alvo legítimo, independentemente da sua nacionalidade".

Mais cedo, o grupo alertou que as ações no Mar Vermelho vão continuar, pelo menos a cada 12 horas, confrontando a operação norte-americana, que conta com o apoio de ao menos 10 países, como França, Reino Unido, Canadá, Itália, Noruega e Espanha.

“Mesmo que a América consiga mobilizar o mundo inteiro, as nossas operações militares não irão parar, não importa os sacrifícios que isso nos custe”, disse Mohammed al-Bukhaiti, um alto funcionário Houthi, em publicação na plataforma X (antigo Twitter).

Na segunda-feira (18/12), al-Bukhaiti já havia reforçado que o grupo será capaz de enfrentar qualquer coligação formada pelos Estados Unidos que possa ser implantada no Mar Vermelho, defendendo que as ações ocorrem como resposta aos ataques diários de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza.

A intensificação dos ataques comandados pelas autoridades de Tel Aviv tem despertado um alerta às organizações internacionais. Nesta terça-feira, o Ministério da Saúde de Gaza contabiliza mais de 19.667 palestinos mortos desde o 7 de outubro, enquanto pelo menos 52.586 estão feridos.

As declarações ocorrem após o anúncio do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, sobre o lançamento de uma “operação multinacional", que tem como propósito "defender" o Mar Vermelho.

Segundo Austin, os ataques dos combatentes do grupo ameaçam a "livre circulação do comércio", colocando, ainda de acordo com o norte-americano, nesta segunda-feira, em perigo navegantes inocentes e violando o direito internacional.

Para ele, o Mar Vermelho é "essencial" ao comércio mundial e uma via para a "liberdade de navegação". Com isso, Austin convocou a comunidade internacional para se unir e defender o território.

Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, o grupo Houthi afirmou ter lançado ataques com foguetes e aeronaves não tripuladas contra alvos israelenses.

Além disso, em novembro, as Forças Armadas do Iêmen, controladas pelo movimento declararam a intenção de atacar qualquer navio israelense no Mar Vermelho, tanto aqueles que hasteiam a bandeira de Israel, quanto aqueles que pertencem ou são operados por empresas do país hebraico.

Quem são os Houthis 

Na década de 90, um ex-membro do Parlamento iemenita pelo partido islâmico Al-Haqq, chamado Hussein al-Houthi, lançou o "Juventude que Acredita". Era o movimento de renascimento religioso para uma subseita do islã xiita, chamada Zaidismo.

Durante séculos, os Zaidis governaram o Iêmen, mas foram marginalizados pelo regime sunita que chegou ao poder após a guerra civil de 1962. E, com isso, foi fundado o movimento de resistência que se denominou Al-Houthi, como uma forma de representar a luta dos fiéis contra o sunismo radical, principalmente as ideias Wahhabi da Arábia Saudita. Logo, seus seguidores ficaram conhecidos como Houthis. 

Chamado também por Ansar Allah (Apoiadores de Deus), o movimento Houthi é uma das partes da guerra civil do Iêmen que se iniciou em 2014.

A aliança com o Irã foi fortalecida desde o início do conflito. As autoridades iranianas apoiaram o grupo fornecendo poder bélico e tecnológico à medida que a conflito escalava e a sua rivalidade com a Arábia Saudita se intensificava.

Hoje, os Houthis integram o “Eixo da Resistência”, uma aliança contra Israel e o Ocidente liderada pelo Irã. Ao lado do palestino Hamas e do libanês Hezbollah, o grupo também faz parte dos movimentos que condenam as hostilidades israelenses em Gaza.