A Argentina parou neste domingo (10) para assistir à posse do novo presidente Javier Milei, o azarão de extrema-direita que se autodeclara um libertário antipolítica e promete cortar gastos e reduzir o tamanho do Estado. Ele venceu o kirchnerista Sergio Massa por curta margem de 55,95% dos votos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da cerimônia em um local de destaque, em cima do palco, ao lado de chefes de Estado. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também marcou presença.
Pela primeira vez em 40 anos, o presidente brasileiro não foi a Buenos Aires para cerimônia. Lula (PT), atacado por Milei durante a campanha eleitoral, mandou seu chanceler, o ministro Mauro Vieira, como representante do Brasil.
Em seu primeiro discurso, Milei afirmou que "começou uma nova era na Argentina" e anunciou o fim do que chamou de "triste história de decadência e declive". O mandatário prometeu fortes ajustes fiscais e disse que lutará para acabar com a inflação.
"Lamentavelmente, tenho de dizer a vocês que não há dinheiro", afirmou Milei, ao quebrar o protocolo e discursar do lado de fora do Congresso, e não dentro, como costuma acontecer.
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"A conclusão é que não há alternativa ao ajuste e ao choque. Naturalmente, isso impactará de forma negativa sobre o modo de atividade de emprego, no salário real, na quantidade de pobres e indigentes. Terá inflação, mas nada diferente do que vimos nos últimos 12 anos. Esse é o último remédio amargo para começar a reconstrução da Argentina. Haverá luz no final do caminho", declarou o político.
"Remédio amargo" de Milei não tem eficácia comprovada
A Argentina segue mergulhada em uma aguda crise socioeconômica, com inflação de 140% ao ano, moeda muito desvalorizada e pobreza que atinge 40% da população. Milei terá que encontrar um caminho para tirar o país do atoleiro, mas promete um receituário ultraliberal que só piorou as condições econômicas de populações onde foi aplicado.
Ideias ventiladas por Milei durante parte da campanha, como adotar o dólar como moeda corrente e fechar o Banco Central não estão mais na ordem do dia. Pelo menos, não publicamente.
Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato acham que o governo de Milei será, em essência, similar ao do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e que ele deve encontrar um cenário favorável no começo do mandato, porque vai contar com uma “colher de chá” do mercado financeiro para tentar colocar a casa em ordem.
Caso consiga, e caso os indicadores socioeconômicos melhorem de forma sustentada, Milei terá uma boa desculpa para deixar na gaveta suas propostas mais radicais, sob o argumento de que não são mais necessárias.
Edição: José Eduardo Bernardes