O maior crime ambiental em solo urbano em curso no Brasil atinge 20% do território de Maceió (AL). O iminente colapso da mina número 18, uma das 35 minas de exploração de sal-gema pela Braskem colocou novamente o município em alerta. O solo já afundou 2,02m desde 29 de novembro, segundo a Defesa Civil do município.
Na última semana, por decisão judicial, 23 imóveis foram incluídos no mapa de risco da Defesa Civil de Maceió. O mapa, no entanto, ainda não abarca todas as famílias atingidas. Até o momento, cerca de 60 mil pessoas já deixaram suas casas desde 2018.
Enquanto isso, famílias de bairros vizinhos à mina, como os Flexais e o Bom Parto, ainda não foram realocadas e nem indenizadas por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF) da empresa. O Brasil de Fato visitou as comunidades para entender como tem sido a vida nessas áreas de risco.
“A nossa história foi destruída, a nossa dignidade destroçada, o nosso direito atropelado e a felicidade já não existe, porque a Braskem destruiu tudo isso. Então como é que se pode dizer que a gente vive bem em um lugar desse?”, coloca o trabalhador autônomo Valdemir Alves dos Santos.
Santos é um dos 3,5 mil moradores do bairro dos Flexais, isolado desde 2019, quando os moradores de Mutange foram evacuados de suas residências. “O nome Braskem traz angústia, tristeza e morte. O nome Braskem traz um sintoma de desespero na alma e na vida psicológica de todos os moradores aqui dos Flexais”, pontua.
A mina 18 está às margens da lagoa Mundaú e a cerca de cinco quilômetros do centro do município. Segundo as famílias, os Flexais são uma região de predominância de pescadores que sobrevivem da pesca e da lagoa Mundaú.
“Hoje em dia a gente não tem mais o nosso sururu e o nosso sururu era o símbolo, né? Nunca tinha visto o sururu mudar de cor e de formato. A Braskem nunca assumiu os erros dela. O que falta agora é ela tirar só a vida do restante dos moradores dos Flexais de Baixo, Marquês de Abrantes, as Quebradas”, explica a marisqueira e comerciante Malbete dos Santos Correia.
Já no bairro Bom Parto, o líder comunitário Fernando Lima, detalha os impactos da mina da Braskem para a população da comunidade.
“Nós temos aqui a maior mina que é a 18. E ela fica por trás do antigo IMA. E é a mais próxima. Fica a um quilômetro da gente. E ela é o que nos afeta sempre. As rachaduras das casas que continuam acontecendo elas decorrem desses fatos dessas minas de forma direta ou indireta estarem com a 18 afetando diretamente o Bom Parto. As pessoas consertam suas casas e elas voltam em um mês, dois meses no máximo, a racharem novamente”, explica.
“Há um convencimento técnico para que nós sejamos realocados, que é o que houve hoje. É o que nós temos na metade do bairro, a realocação. E porque a rua à beira da lagoa, o Beco Diazepam, a Rua das Carroças não foram retiradas? Porque a condição de vida humana é impossível. O que nós pedimos a ela, pedimos aos governos, pedimos aos órgãos competentes. Nos tirem daqui. Nos dê condições de vida”, completa.
O mesmo pedido é compartilhado pelo pescador Marcos Henrique Claudino Barro, que vive na Rua São Francisco, às margens da Lagoa Mundaú.
“Se alguém vem aqui ou se o prefeito ou algum do Estado. Eu quero que eles venham olhar. Venham ver a situação que a gente está passando aqui. Pra sentir na pele o que é o sofrimento. Aqui ninguém está vivendo mais não. Está vegetando”, finaliza o morador do Bom Parto.
A empresa Braskem informou que adota o mapa de linhas prioritárias de realocação das famílias, seguindo definição da Defesa Civil de Maceió.
Edição: Vivian Virissimo