Coluna

Semeando no deserto

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Presidente Lula posa para fotos durante o evento sobre Florestas: Protegendo a Natureza para o Clima, Vidas e Subsistência, na Expo City Dubai – Teatro Al Waha. Dubai - Emirados Árabes Unidos - Ricardo Stuckert
Os maiores empecilhos para os planos ambientais de Lula não estão no exterior

Olá, se tudo der certo, o ano termina com Dino no STF, Haddad com dinheiro e Lula à frente da nova ordem mundial. Mas será suficiente para derrotar a direita?

.Novos ventos. O ano está acabando e, junto com ele, a ressaca pós 8 de janeiro. O sinal mais claro de que os ventos da política estão mudando é que o STF deixou de ser aplaudido como guardião da democracia para se tornar alvo de tentativas de controle por parte do Senado. E não são só as decisões monocráticas que estão em jogo, pois Rodrigo Pacheco já disse que, depois da PEC 8/2021 aprovada pela casa na semana passada, o próximo passo será propor mandatos fixos para os ministros do STF.

À princípio, nada disso teria a ver com o governo, a não ser pelo fato de que ainda estava pendente a indicação de Lula para a vaga de Rosa Weber. E, pelos rebojos da política, o voto do senador petista Jaques Wagner na dita PEC, visto como traição pelos membros do Supremo, acabou implodindo a candidatura de seu ex-assistente, Jorge Messias, ao STF. Wagner preferiu agradar o presidente do Senado para garantir as pautas econômicas e as sabatinas na casa, deixando para a Câmara o trabalho de derrubar a PEC sobre o STF.

Para compensar o descontentamento dos ministros da Corte, Lula indicou Paulo Gonet à PGR, um conservador aliado de Gilmar Mendes. E por esses caminhos tortos, Flávio Dino foi indicado por Lula ao STF, provavelmente o nome mais progressista da história do Supremo. A seu favor, Dino conta com o fato de que a indicação de ministros da Justiça ao STF é vista como natural e tem diversos precedentes. Além disso, ele tem experiência na área, já que é um ex-juiz federal. Porém, pesa contra ele ser um homem que substituirá uma das poucas ministras que se aposentou.

Além disso, para as hordas bolsonaristas, ele é “comunista” e foi central no cerco aos protagonistas de 8 de janeiro. E estes, agora, além de quererem saborear a derrota de um arqui-inimigo, pretendem também fazer dela uma derrota para o governo, reeditando a estratégia usada contra o indicado de Lula para a Defensoria Pública da União (DPU) em outubro, que foi rechaçado pelo Senado. E, é claro que, tudo o que o centrão quer é misturar as coisas, usando a sabatina de Dino como moeda de troca para aprovar ou não os vetos de Lula.

.Abrindo a gaveta. Com a indicação de Flávio Dino ao STF e Paulo Gonet à PGR, outras peças se movem. De saída, a indicação de Gonet não foi bem recebida pela esquerda, por se tratar de um reconhecido conservador. Mesmo assim, espera-se que ele vá muito além do antigo engavetador-geral da República, Augusto Aras. Afinal, além de Gonet ser próximo de Alexandre de Moraes, ele se posicionou pela inelegibilidade de Bolsonaro no julgamento do TSE. O que é importante, já que estarão em suas mãos o encaminhamento da delação premiada de Mauro Cid e as acusações de golpe de Estado que recaem sobre o ex-presidente. Em compensação, o novo chefe da PGR pode ser um impecilho para o avanço da pauta do aborto legal, tema sobre o qual ele já deu opinião contrária no passado.

A outra peça em jogo é a vacância do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Com a saída de Dino, abriu-se a temporada de especulações sobre quem assumirá a cobiçada pasta, que conta com poder, prestígio e um orçamento de R$20 bilhões. E, a cada dia, a lista de candidatos não para de crescer, incluindo nomes como Simone Tebet, Jaques Wagner, Gleisi Hoffmann, Jorge Messias, Ricardo Cappelli, Marco Aurélio Carvalho, Wadih Damous e até o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski.

O certo é que, independente de quem levar esse bolão, estarão em pauta mudanças na política de Segurança Pública, calcanhar de Aquiles dos governos do PT. Neste caso, uma aventada divisão do Ministério em dois, separando a Justiça da Segurança Pública, poderia matar dois coelhos numa cajadada só: daria maior projeção a um tema urgente, com um Ministério com cara e recursos próprios, e ainda criaria mais um espacinho para acomodar a base aliada dentro do governo.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Kissinger, criminoso de guerra. No UOL, Jamil Chade traça o perfil do homem que atacou e derrubou democracias para os EUA.

.Como um chefão do petróleo assumiu a presidência da cop28. No Intercept, quem é o sultão Al Jaber, empresário dos combustíveis fósseis que preside a Cúpula ambiental.

.O possível papel da moeda dos BRICS. No Outras Palavras, Michael Hudson analisa a elevação dos juros norte-americanos e seus efeitos sobre a construção de uma alternativa monetária global.

.Em defesa de Breno Altman. Na Jacobin, Alexandre Vasilenskas condena às tentativas judiciais de censura ao editor-chefe do Opera Mundi.

."Agrotóxico virou arma química contra indígenas no Brasil". Ameaçada no Brasil, a pesquisadora Larissa Bombardi (USP) fala sobre as consequências do PL do Veneno. Na DW.

.Munduruku estão cada vez mais cercados pela soja e agrotóxicos. Na Carta Capital, como o agronegócio usa o veneno e a violência para atacar os indígenas no Pará.

.Guilhotina #222 - Juliane Furno e Pedro Rossi. O podcast do Diplomatique Brasil recebe os jovens economistas, autores do livro “Economia para a transformação social: pequeno manual para mudar o mundo”.

Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Rodrigo Chagas