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A escola é a trincheira. Mais um episódio de uma série antiga

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Mais uma vez os estudantes não fugiram à luta no Paraná - Divulgação
Laboratório de políticas neoliberais, a educação no Paraná é o palco principal da mobilização

Mais uma vez os estudantes não fugiram à luta no Paraná.

Parecia um novo episódio de uma velha série, talvez iniciada em 2016. Ou, então, um filme com grande bilheteria buscando sua continuação. E não deu outra. A tragédia se repetindo como tragédia. Mas tudo bem.

Pra quem achava que professores, estudantes e sindicatos andavam quietinhos, o governador Ratinho Jr, porém, não dá descanso, mesmo no final de um 2023 que era, em tese, pra ser tranquilo.

Mas vale lembrar como tudo começou, apesar de os personagens hoje serem outros e o elenco ter se renovado, com atores, atrizes e protagonistas em plena estreia.

No entanto, quem não recorda, em 2016, no início do governo Temer, a proposta de Novo Ensino Médio (NEM), que até hoje é motivo de sérias críticas?

Era uma proposta nacional, mas que encontrou uma resistência surpreendente no Paraná, que ficou conhecido pelas mais de 600 ocupações de escolas.

À época, cada ocupação foi uma mostra viva de criatividade, promovendo debates, cursos, pintura das paredes e da estrutura velha de cada escola. O aprendizado rendeu experiências de organização, formou pessoas para a luta social (estou evitando dizer que foi uma verdadeira escola de luta) e permitiu inclusive o ascenso da liderança, por exemplo, de uma hoje deputada Ana Júlia Ribeiro, e de tantas outras pessoas.

Se, como ironizou Marx certa vez, os filhos devem educar os pais, fomos os militantes mais velhos que aprendemos com a estudantada.

Um ano antes, o então governador Beto Richa, também aprendiz, só que do ex-governador, e atual senador, Álvaro Dias, ao lado do velho Traiano, e de Francischini, deslocados de um enredo de faroeste, mantiveram o aprendizado da falta de diálogo, da repressão e protagonizaram o brutal episódio do Massacre do Centro Cívico, no 29 de abril, reprimindo professores e servidores públicos estaduais.

A lista de episódios é grande. Ainda tivemos o debate do “Escola Sem Partido”, que gerou polêmicas e enfrentamentos entre estudantes, organizados ou não na UPES e na UPE, e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL). Quem acompanhou de perto os enfrentamentos, sabe que até bate-paus foram contratados pra intimidar a piazada. E que a democrática Gazeta do Povo criou um canal para monitoramento de estudantes. Que foi um fiasco de bilheteria nos cinemas, diga-se de passagem. O neofascismo e o neoliberalismo, não adianta, meu amigo, caminham sempre juntos, desde os tempos do Chile de Pinochet.

Ratinho Jr recebeu o bastão e a missão de seguir reprimindo a todo custo tentando implementar o tal do neoliberalismo na Educação pública no estado. O governador Ratinho Jr atravessou a última temporada em pé de guerra com o sindicato estadual de professores (APP-Sindicato). Fez da educação um laboratório neoliberal, com a plataformização da educação encontrando críticas como um novo modelo de exploração do trabalho.

Agora, assistimos a resistência contra a proposta de 127 escolas cívico-militares. Foram dias marcados por pressão contra a comunidade escolar, muitas fake news, e oportunismo em relação à preocupação legítima do povo com a questão da segurança -, mas que não se resolve com um cabidão de emprego de mais de R$ 5 mil para um policial militar aposentado que deve entender de Educação tanto quanto Bolsonaro.

Fica marcado pra memórias atuais e futuras o exemplo de várias escolas, como a Ivo Leão, na qual rostos novos no grêmio estudantil ("o movimento dos leões") se mobilizaram, informaram a comunidade, fizeram vídeos, usaram das tecnologias à disposição, sem perder de vista a velha e boa agitação, panfletagens, convocatória de atos e ações conjuntas.

Ontem (30), ainda puder ver um vídeo de agradecimento para as organizações que apoiaram a luta (APP, UPES, movimentos), rompendo qualquer vício corporativo e mostrando que, na luta, os ambientes se oxigenam. Amigos disseram em grupos que choraram. Foi, sim, emocionante e leve, como um bom filme pra antes do descanso.

Mas, menos de vinte a quatro horas após 82 colégios paranaenses serem militarizados, e enquanto outros 44 resistiram, agora Ratinho Jr se movimenta para extinguir a gestão democrática em outros 25 colégios de 21 cidades.

Nossa série, então, continua.

O título do episódio 1 da nova temporada talvez seja: Uma nova resistência.

 

 

Edição: Lucas Botelho