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Fracasso da Seleção Brasileira: afinal de contas, de quem é a culpa?

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A Seleção Brasileira foi derrotada pela Argentina por um a zero nesta terça-feira (22), no Maracanã - Staff Images / CBF
Toda essa lambança que estamos vendo é resultado das escolhas terríveis feitas pela CBF

Existe muita coisa pra ser dita sobre esse 2023 da Seleção Brasileira. Em todos os sentidos. Desde o planejamento iniciado no final do último ciclo, com a saída de Tite depois da última Copa do Mundo, até o futebol que eu e você vimos em campo nessas duas últimas Datas-FIFA. E vocês podem estar certos de que a situação precisa melhorar muito pra gente poder chamar ela de péssima.

Não unicamente por conta de Fernando Diniz, o treinador escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para comandar a Seleção Brasileira até a suposta chegada de Carlo Ancelotti em meados do ano que vem. Digo suposta porque ninguém sabe até agora se o treinador italiano vai mesmo assumir a equipe. O que se sabe é apenas o que a CBF passa para a TV Globo e o que esta noticia nos seus telejornais, rádios e sites. Nada além disso.

E se o atual técnico da Seleção Brasileira não é o único e nem o maior culpado, o mesmo deve ser dito dos jogadores. Claro que são eles que tomam as decisões em cada lance, que fazem e/ou perdem gols, que falham na defesa e que ainda custam a entender o contexto no qual eles estão inseridos. Não é novidade pra ninguém que tem muito jogador que acha que vive em Nárnia, num mundo feliz e pacífico onde qualquer comentário contrário ao que ele pensa é apagado pelos “parças” que cuidam das suas redes sociais.

A grande verdade, meus queridos confrades, é que toda essa lambança que estamos vendo é resultado das escolhas terríveis feitas pela CBF e pelo seu presidente, Ednaldo Rodrigues.

Pensem comigo. Tite havia anunciado no segundo semestre do ano passado que não ficaria na Seleção Brasileira em 2023. Beleza. Que se iniciasse desde já a busca por um substituto. E eu já falei aqui no Brasil de Fato e vou repetir: nada contra um técnico estrangeiro. Por mim, ele pode ser português, russo, marciano ou nascido no planeta do Super-Homem. "Tô nem aí". Se entender de futebol e souber passar seu conceitos, está tudo certo. É dar tempo ao "cara" pra ele se adaptar e usar as Datas-FIFA para dar forma à equipe.

Acontece que a CBF escolheu um treinador que não poderia assumir a Seleção Brasileira logo no começo de 2023. Carlo Ancelotti tem contrato com o Real Madrid até meados de 2024 e, de acordo com as notícias que chegam da Europa, a tendência é que o clube merengue ofereça uma renovação por mais uma ou duas temporadas. Por ainda ter contrato, Ancelotti só poderia vir no ano que vem, bem no início da Copa América.

Foi aí que alguém na CBF teve a “brilhante ideia” de escolher um treinador interino para “tampar” o buraco até o ano que vem. Ramon Menezes não funcionou bem no comando da equipe e voltou para o Sub-23. Eis que a entidade que comanda o futebol brasileiro opta por Fernando Diniz.

Nada contra o técnico do Fluminense. Pessoalmente, acho bacana esse seu estilo mais autoral e “diferentão” de enxergar o futebol. É bom treinador sim, pessoal.

E se ele não fosse bom, não teria feito o que fez na conquista da primeira Copa Libertadores da América do Tricolor das Laranjeiras. Não sejamos levianos. Claro que a sorte também ajudou um pouco, principalmente nas partidas contra o Internacional, mas minha mãe costuma dizer que “a sorte ajuda quem trabalha”. Fora que o Fluminense é uma das equipes mais agradáveis de se ver jogando nesses últimos meses.

O problema é que justamente por  este estilo mais autoral que Fernando Diniz precisa de mais tempo do que o normal para acertar suas equipes. E este tempo não existe no comando de uma seleção nacional.

Me parece, daqui de longe, que a CBF meio que subestimou todo o contexto. “Ah, vamos colocar o Diniz ali e ver se dá certo até o ano que vem.” O que estamos vendo em campo foi uma equipe que jogou bem contra a Bolívia, que sofreu para vencer o Peru, que empatou com a Venezuela em casa e que foi derrotada por Uruguai, Colômbia e Argentina. Esta última dentro do Maracanã que viveu uma verdadeira batalha antes da bola rolar. Isso porque alguém ali da organização da partida achou que estava “super de boa” não colocar divisão/proteção entre as torcidas brasileira e argentina. Como se nada fosse acontecer na primeira provocação vinda de qualquer um dos lados.

A verdade, meus amigos, é que a CBF anda viciada em fazer “caquinha”. Daquelas bem fedidas.

Quem observava toda a situação desde a saída de Tite, que está sendo absolvido pelo tempo, já percebia que as coisas poderiam dar muito errado. Não tinha como dar certo uma situação com um treinador interino dono de um estilo de jogo que precisa de tempo para sem implementado num cenário em que este tempo não existe e que pode não ser mais o interino se Ancelotti der pra trás no “acordo” que tem com a CBF. Se é que este “acordo” feito “de boca” vai mesmo ser cumprido no ano que vem.

A única coisa que eu sei é que estamos vendo uma porção de novos jogadores sendo jogados no campo e correndo como loucos num time completamente desorganizado. Tudo para atender uma imprensa viciada em imediatismo e que clama por “renovação total e irrestrita” a cada derrota. Como se os jogadores que estiveram na última Copa do Mundo não tivessem algo para passar para os jovens que estão chegando agora na Seleção Brasileira. E na beira do gramado, temos um Fernando Diniz sendo usado como “boi de piranha” pela mesma CBF que o escolheu para “tapar o buraco” até Ancelotti chegar.

Querem culpar os jogadores? Que os culpem. Faltou um pouco mais de vivência e concentração para não cair na catimba dos argentinos. E, é claro, faltou também jogar um pouco de futebol em outras oportunidades.

Querem culpar Fernando Diniz? Beleza. A insistência num modelo de jogo que precisa de tempo para ser assimilado tem sido seu principal erro na Seleção Brasileira. Era fazer o simples e ir adaptando aos poucos.

Mas apontem seus dedos para a CBF também. Coloquem Ednaldo Rodrigues no olho do furacão. Questionem o cara que fez com que o futebol brasileiro chegasse nessa situação.

Cobrem dele explicações sobre a situação da equipe pentacampeã mundial, das nossas competições, sobre a ausência de profissionais capacitados para cuidar das coisas na CBF e sobre a falta de explicações para a imprensa em geral. E não apenas para a Rede Globo que mais tem passado pano do que apontado erros no planejamento.

É o mínimo a ser feito por quem diz entender um mínimo de futebol. 

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Jaqueline Deister