É impossível não reconhecer no cotidiano a letalidade do racismo trazida à tona por Tenório
Lotando teatros desde março, a adaptação do livro premiado de Jeferson Tenório, O Avesso da Pele, tem uma apresentação especial neste 20 de novembro, dia da Consciência Negra. A peça passa pelo Theatro Municipal de São Paulo em data única.
A apresentação está marcada para as 18h, e a partir das 16h haverá distribuição de um último lote de ingressos no local do evento.
Com direção de Beatriz Barros, a trama conta a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado durante uma abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.
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"É impossível não reconhecer em nosso cotidiano cada uma das formas de expressão da letalidade do racismo trazidas à tona por Tenório. O elenco é formado por quatro atores negros com menos de 30 anos. Em cena, os quatro atores se alternam entre os personagens, em um movimento em que todos serão pai e filho em algum momento", descreve a sinopse da peça.
Neste quase um ano circulando pelo país, a peça vem recebendo apoio de atrizes como Renato Sorrah, Débora Falabella, Jonathan Haagensen, Naruna Costa, além da escritora Conceição Evaristo.
Em 2021, O Avesso da Pele foi premiado como melhor romance literário pelo Jabuti. A ideia de adaptar ao teatro veio um ano depois. Mas ainda demoraria para estrear.
Tudo partiu de um desejo dos quatro atores que protagonizam a trama, Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli e Vitor Britto, que compõem o coletivo Ocutá.
Marcos Oli conta que, antes de chegar ao O Avesso da Pele, os quatro atores já tinham cogitado outros textos, estavam numa busca há pelo menos três anos. "Estávamos buscando fazer um projeto entre amigos, alguma coisa informal, primeiramente, que envolvesse uma pesquisa teatral, uma coisa para exercitar e a gente foi entendendo que tinha um potencial para criar ali um coletivo e desenvolver um espetáculo", afirma em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (20).
Segundo o ator, quando encontraram pela primeira vez a diretora Beatriz Barros, "a gente sabia que queria fazer uma peça, mas não sabia por onde começar, nem qual tema seria, qual título. A gente queria dançar funk, falar sobre coisas atuais e, ao mesmo tempo, de uma forma que envolvesse humor e que fosse também reflexiva".
A proposta abrangente encontrou vazão no livro de Jeferson Tenório. "Um dia Vitor [Britto] e a Beatriz [Barros] chegaram com um texto em um jantar e a gente entendeu na hora: 'é isso'".
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O grupo entrou em contato com o escritor da obra original que, prontamente, deu apoio e todas as condições para que a adaptação acontecesse.
Drama e humor
O livro e a peça têm o mesmo enredo, mas se apresentam de forma diferente. Enquanto a versão literária é considerada um texto denso e trágico, a peça traz a mesma temática por meio do humor. O que não significa que foge da denúncia do racismo no Brasil.
"Eu acho que o humor é a principal ferramenta para se fazer refletir os assuntos que a gente quer levantar, questionar e trazer", defende Oli.
Marcos Oli em cena no O Avesso da Pele / Foto: Helt Rodrigues
O ator comenta que tem percebido como, por vezes, o público se sente "envergonhado" de rir durante a peça. Segundo ele, é como "se estivessem esperando a nossa permissão para rir".
Fora dos palcos, Marcos Oli conquistou um público na internet. São mais de 120 mil seguidores nas redes sociais.
"Eu pensei em criar personagens que fossem humanizados, que as pessoas pudessem se identificar com eles. O humor tem muito isso. As pessoas riem da própria desgraça, ou as pessoas se identificam com o que elas estão passando".
O Municipal
Na opinião do ator, "se apresentar no Municipal [de São Paulo] é um sonho para qualquer artista".
"É um teatro histórico que carrega uma história maravilhosa e é o nosso primeiro trabalho como coletivo, nossa primeira peça, a gente está ocupando esse espaço. É um presente enorme."
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Para chegar lá, houve uma série de tratativas. Vitor Britto que iniciou o diálogo com a equipe responsável do Municipal. Mas tudo só foi possível pela intervenção de Tenório, comenta Oli.
Segundo o ator, após a intervenção do escritor, a equipe do Theatro foi ver uma apresentação do coletivo, o que foi decisivo.
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Edição: Thalita Pires
