O que acontecerá com a Argentina a partir de 10 de dezembro, quando toma posse o novo governo? Saberemos neste domingo (19), quando for encerrada a apuração dos votos que os argentinos depositarão em Sergio Massa ou Javier Milei. As pesquisas indicam um cenário absolutamente equilibrado, e especialistas classificam a eleição atual como a “mais importante da história.”
À frente, duas possibilidades: um governo de centro, que terá que flertar com a ala progressista do peronismo e abrir diálogo com os movimentos sociais do campo popular, ou uma guinada à extrema direita, que pode levar o país ao “caos.”
“Se ganhar Milei, teremos uma situação de caos e com fortes níveis de confrontos em curto prazo. O povo argentino vai sair nas ruas, demonstrou nos últimos anos que defende os direitos humanos, a educação pública e a saúde, e acho que outros setores que não estão no campo popular vão aderir”, especula Gonzalo Armúa, responsável pelas Relações Internacionais da Frente Pátria Grande, que conseguiu 5,7% dos votos nas eleições primárias argentinas, em agosto deste ano.
A análise é similar ao prognóstico de Hugo Yasky, deputado federal e secretário-geral da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), que pediu que os argentinos se recordem da “experiência Bolsonaro que destruiu o Brasil.”
“Se a eleição do Milei se confirma e ele passa a cumprir tudo que prometeu, teremos um quadro de turbulência que vai mobilizar os estudantes e trabalhadores para que saiam às ruas para se defender”, finalizou o deputado federal.
Na possibilidade de vitória de Milei, haverá uma disputa na direita pelo controle do poder. Na Argentina, há um ceticismo sobre a capacidade de governar do candidato da extrema direita, que tem bom desempenho nas redes sociais, mas pouco traquejo em ambientes e atividades que exigem maior preparo para debater os temas do país.
Neste cenário, espera-se que o ex-presidente Maurício Macri, fiador da campanha de Milei, seja uma presença constante na Casa Rosada e que demande uma fatia do governo, para garantir que o ultradireitista não fique isolado, já que não contará com base para governar no parlamento argentino.
“Está muito apertado, não tem como saber o que acontecerá, pode vencer um lado ou outro. Massa tem o apoio de diversos setores organizados da sociedade, governadores, prefeitos, professores, pesquisadores, artistas, etc...estão posicionados com Massa”, alerta Armúa. “Do lado de Milei, nenhum desses setores o apoiam, nenhum governador ou prefeito, só Macri”.
Se ganha Massa, o caminho natural é que o peronista tente formar um governo de coalizão, contemplando todos os setores que se uniram em torno de sua candidatura, mais pela oposição a Milei e menos por seu carisma ou agenda política.
“Se ganhar o Massa, teremos um governo de centro, de centro conservador”, explica Armúa. “Ele manterá o status quo, principalmente a saúde e educação, mas deixando espaço para setores de esquerda, de dentro do campo popular (no governo)”, finaliza.
Ministro da Economia do governo do atual presidente, Alberto Fernandez, Massa não esconde que sua prioridade será a agenda econômica. A Argentina está submissa a uma inflação de 142% ao ano e com 40% da população na linha da pobreza.
Edição: Raquel Setz