Em ato realizado nesta segunda-feira (13) na sede da Escola Judicial de Pernambuco (Esmape), no Recife (PE), famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cobraram justiça por Josimar da Silva Pereira, que foi assassinado a tiros na última semana no acampamento São Francisco de Assis, em Vitória do Santo Antão, também em Pernambuco.
O camponês de 30 anos foi alvejado na nuca e nas costas enquanto se locomovia de moto para o acampamento, onde trabalhava na irrigação do plantio de arroz orgânico. Ainda não se sabe a autoria e a motivação do assassinato.
Os cerca de 300 manifestantes também reivindicaram a regularização do acampamento. As famílias que moram no local travam uma luta de 29 anos pela desapropriação do Engenho São Francisco, que pertence à Usina JB, já vistoriado pelo Incra. De acordo com o movimento, a área não cumpre função social e deveria, portanto, ser destinada à reforma agrária, como determina a Constituição.
O ato foi realizado no local em que uma audiência entre o Ministério Público de Pernambuco (MPE-PE), a Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-PE) e a Usina JB debateu a situação das áreas não produtivas em Vitória de Santo Antão e Amaraji. O MST se recusou a participar da audiência e da mesa de negociação com representantes da usina.
"Hoje aconteceu uma audiência pública para tentar buscar uma solução para desapropriação do São Francisco e também de dois engenhos [da cidade] de Amaragi", explica Jaime Amorim, da direção nacional em Pernambuco.
A reunião chegou a um acordo para a desapropriação das áreas localizadas em Amaragi. "O Incra vai desapropriar os engenhos, no total de 1,4 mil hectares, para assentar as famílias de Amaragi. É uma vitória importante para nós", afirmou Amorim.
A luta pela desapropriação da Usina São Francisco segue. "Temos amanhã uma reunião com o Incra e com o MPE-PE para ver quais as alternativas. Vamos buscar uma saída para garantir que também São Francisco seja desapropriado. Afinal de contas, são anos de luta, de resistência e agora, com o assassinato de Josimar, é uma questão de honra para nós garantir a desapropriação."
O sem-terra Severino Alcides Oliveira afirma que as famílias estão com medo no acampamento São Francisco. "Estão acontecendo muitos problemas, a gente sendo ameaçado ou a gente com medo, então a gente está aqui pedindo que o novo juiz dê uma força para a gente e libere aquela terra para a gente trabalhar e ter o pão da gente."
Os conflitos entre fazendeiros e acampados do MST têm se acirrado nos últimos dias no Nordeste. Além de Josimar, outros dois militantes sem-terra foram assassinados no sertão da Paraíba.
Edição: Thalita Pires