Trabalhar menos tempo sem perda salarial é possível? O debate sobre a redução da jornada de trabalho está cada vez mais presente nos dias de hoje. No início de outubro, o ministro do Trabalho Luiz Marinho defendeu a chamada semana de quatro dias úteis em uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
"Eu acredito que passou da hora [discutir nova regulamentação da jornada]. Não tratei disso com o presidente Lula. É a minha opinião, não de governo", disse o ministro.
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O modelo de redução de jornada é uma pauta histórica do movimento sindical. Adriana Nalesso, presidenta da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Rio de Janeiro (Federa-RJ) e vice presidenta Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-Rio), destaca que as organizações sindicais têm defendido a jornada de trabalho de quatro dias na semana com base na experiência positiva de outros países.
“Os estudos realizados em alguns países demonstram que a redução de jornada tem possibilitado melhor qualidade de vida para os trabalhadores e aumento na produtividade por parte das empresas, além de contribuir com o meio ambiente e para saúde física e mental dos trabalhadores”, afirma Nalesso que aponta existir uma resistência por parte dos empregadores ao modelo que reduz as horas de trabalho.
“A proposta tem apoio da maioria dos trabalhadores que responderam pesquisa no portal de vagas ‘emprego.com.br’. Conforme apurado, 80% dos trabalhadores são favoráveis à redução de jornada, porém ainda há muita resistência por parte de empregadores, apenas 5% apoiam a medida”, explica.
Semana de 4 dias
A experiência da redução de jornada com menos um dia de trabalho na semana está sendo adotada no Brasil por algumas empresas. Uma iniciativa liderada pela ONG 4 Day Week Global e a Universidade de Boston, em parceria com a empresa brasileira Reconnect Happiness at Work, reuniu 20 empresas nacionais para participar do programa “Semana de 4 Dias” que começa em novembro e vai até maio de 2024.
De acordo com o ONG, a “Semana de 4 Dias” é uma redução na semana de trabalho de 40 horas para 32 horas pelo mesmo salário e benefícios. “Os trabalhadores recebem 100% de salário por 80% do trabalho com metas de produtividade de 100% atingidas”, diz a apresentação da 4 Day Week Brazil.
O "Piloto Reino Unido" realizado em 2023 pela 4 Day Week Global reuniu 2.900 colaboradores de 61 empresas britânicas. Segundo a ONG, 92% das empresas continuarão com a semana de 4 dias, 39% dos colaboradores se sentiram menos estressados, 71% reduziram sintomas de burnout e 54% achou mais fácil conciliar vida pessoal e profissional.
Para Nalesso, propostas como a da "Semana de 4 Dias" ajudam a quebrar paradigmas num país onde há muita resistência por empregadores, por parte do Legislativo e também do Executivo de novos formatos da relação de trabalho.
“Nós precisamos atualizar as relações de trabalho e pensar que futuro queremos construir. Para isso, se faz necessário refletir sobre como a tecnologia tem sido utilizada e quais as consequências. Eu acredito que é possível termos avanços que podem refletir no futuro em uma sociedade com mais qualidade de vida e consequentemente mais feliz”, ressalta a presidenta da Federa –RJ.
Edição: Mariana Pitasse