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Série de tropeços marca incerteza para o futuro do Botafogo no Brasileirão

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O Botafogo foi derrotado pelo Grêmio nesta quinta-feira (9) em São Januário - Vítor Silva / Botafogo
Equipe chegou a nadar de braçada na liderança do Brasileirão

Explicar o que acontece com o Botafogo nessa reta final de Campeonato Brasileiro não é uma tarefa tão complicada assim. Basta observar as escolhas feitas pela diretoria e pelos próprios jogadores após a saída de Luís Castro para o futebol da Arábia Saudita e todo o processo que culminou na demissão de Bruno Lage no início do mês de outubro até a chegada de Lúcio Flávio. A impressão que fica é a de que todo mundo no clube pensava que o título já estava garantido. Só que as coisas não funcionam assim.

Sim, existem coisas que só acontecem com o Botafogo. Todo mundo conhece ou pelo menos já ouviu essa frase clássica que vem recheada de "folclore futebolístico" e de algumas boas doses do conhecido pessimismo que faz parte da grande maioria dos torcedores alvinegros. É quase um mecanismo de autopreservação adquirido naturalmente após as quedas para a Série B e as dificuldades em manter o clube funcionando.

Só que esse mesmo Botafogo deu esperanças de que as coisas finalmente mudariam.

A equipe chegou a nadar de braçada na liderança do Brasileirão e fazer com que todos nós passássemos a dar a conquista do título como praticamente certa. Foram 13 pontos de vantagem que derreteram completamente nos últimos meses.

E aqui vale um adendo: o problema não é oscilar. Quem acompanha o velho e rude esporte bretão de perto sabe que essas oscilações, ainda mais em competições de pontos corridos, é mais comum do que a gente pensa. E as explicações são as mais variadas possíveis. Lesões, suspensões, cansaço da temporada, ansiedade pelo título e por aí vai.

Estranho mesmo era ver o Botafogo ou qualquer outra equipe do planeta empilhar vitórias seguidas, mesmo jogando abaixo do que se espera em alguns momentos, numa liga equilibradíssima como a nossa. Do jeito que as coisas estavam funcionando, a impressão que fica para este colunista era a de que o "Glorioso" conquistaria o título mesmo sem técnico ou mesmo diante de uma nova hecatombe nuclear.

E é aí que mora, ou morava, o perigo. Todo excesso de confiança costuma ser fatal dentro e fora de campo.

E as escolhas feitas depois da saída de Luís Castro ajudam a entender um pouco o que aconteceu e acontece com o time de General Severiano.

A chegada de Bruno Lage ao Botafogo foi um dos pontos que fez este que escreve lembrar que o clube da "Estrela Solitária" havia realmente mudado de patamar. John Textor, dono da SAF alvinegra, havia trazido um treinador que até pouco tempo atrás estava comandando um time da Premier League, a liga de futebol da Inglaterra. E isso não era pouca coisa.

A expectativa seguiu bem alta apesar dos tropeços dentro de campo até certo ponto naturais por conta da adaptação necessária entre o elenco e o novo treinador.

Com o tempo, no entanto, o time foi tropeçando dentro de campo por conta de escolhas ruins do próprio treinador português.

A vantagem que era de 13 pontos caiu para sete, o futebol consistente de antes começou a apresentar problemas mais sérios e a relação começou a ficar mais desgastada do que o normal. A gota d’água veio com a barração de Tiquinho Soares no empate com o América Mineiro no Estádio Nilton Santos.

Pelo que se sabe da apuração dos colegas de imprensa, alguns jogadores chegaram a procurar John Textor para “pedir a cabeça” de Bruno Lage pois o treinador havia perdido a confiança do grupo. O “escolhido” pelo elenco foi Lúcio Flávio. E este teria o argentino Joel Carli como auxiliar. Opção ousada diante do que estava em jogo. Era uma aposta num profissional ainda sem “casca” para gerir um grupo experiente e que sofreria pressão de todos os lados nessa nova empreitada.

Com Lúcio Flávio, a vantagem que era de sete pontos caiu para zero depois da virada sofrida diante do Grêmio de Luisito Suárez nesta quinta-feira (9) em São Januário. Jogadores como Lucas Perri, Victor Cuesta, Tchê Tchê e outros caíram vertiginosamente de produção e o mínimo de organização tática que se via anteriormente também evaporou.

Quem viu as derrotas para Palmeiras, Vasco e Grêmio viu um time que até iniciava bem as partidas, mas que encontrava dificuldades enormes para encontrar soluções diante das menores adversidades. Podia ser um pênalti, uma expulsão ou até mesmo uma alteração tática feita pela outra equipe. Tudo era motivo para derrubar o psicológico do "Glorioso" de uma maneira inacreditável.

Só a título de comparação, Bruno Lage comandou o Botafogo em 15 partidas, com quatro vitórias, sete empates e quatro derrotas, o que dá um aproveitamento de 42,2% dos pontos disputados. Já Lúcio Flávio esteve à frente do time em sete partidas com duas vitórias, um empate e quatro derrotas, todas seguidas. Isso dá um aproveitamento de apenas 33,3% dos pontos disputados nesse período.

Notem bem que o recorte colocado acima é extremamente pequeno para se avaliar o trabalho de qualquer um dos dois treinadores. Mas a pressa na mudança, a tentativa de se criar “fatos novos” e o sentimento velado de que “os jogadores não precisavam de treinador para conquistar o título” são alguns dos grandes motivos pelos quais as coisas não andam funcionando conforme o desejado no Botafogo. Com isso, a confiança desses mesmos atletas, que era bem alta até a metade do Brasileirão, simplesmente derretia diante das menores adversidades que cada jogo trazia.

Mas é difícil dizer o que fazer diante de um time que perde jogos da mesma forma que uma pedra de gelo derrete no calor do Rio de Janeiro. A forma como o Botafogo sofreu a virada do Palmeiras dentro de casa, podendo abrir quatro a um de vantagem aos 37 minutos do segundo tempo, e o chilique inexplicável de John Textor dizem muita coisa. Assim como o silêncio da torcida depois da virada sofrida diante do Grêmio na última quinta-feira (9).

Apesar de tudo, o Botafogo ainda depende das próprias forças para ser campeão.

Mesmo com Grêmio, Palmeiras e Red Bull Bragantino com os mesmos 59 pontos do "Glorioso" e com o Flamengo querendo brigar pelo título. Nada impede que o time vença seus jogos restantes e levante a taça de campeão. Afinal, “existem coisas que só acontecem ao Botafogo”, não é verdade?

Só que o que eu e todo mundo estamos vendo é que a barca alvinegra está afundando e seus tripulantes não sabem muito o que fazer para evitar a tragédia. Mesmo quando todos nós sabemos que eles mesmos se transformaram em vítimas das próprias escolhas.

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Jaqueline Deister