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Hip-hop salva vidas! 40 anos de resistência negra no Brasil

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Em BH, o duelo de MC's debaixo do viaduto Santa Tereza atrai fãs da cultura Hip Hop de todo o Brasil - Foto: PBH
PL aprovado em Belo Horizonte incentiva as batalhas de rimas e de MCs, saraus e slams

Dia Mundial da Cultura Hip-Hop: você já se perguntou como o hip-hop, que completa 40 anos no Brasil, conseguiu superar desafios, influenciar políticas públicas e se transformar em uma força cultural em Belo Horizonte?

A cultura, que surgiu no mundo há 50 anos, em 2023, celebra 40 anos de existência no Brasil. Nascida no Bronx em 1973, chegou ao país no início dos anos 1980, quando a juventude brasileira começou a receber as referências estadunidenses.

Resistência ao racismo

Nos anos 1980, o rap era frequentemente estigmatizado como “música de bandido”, ecoando a experiência de figuras como Cartola, na icônica foto da década de 1970, em que o cantor aparece cabisbaixo após ser agredido pela polícia por sua associação com o samba.

Da mesma forma, o rap também enfrentou marginalização no Brasil, sendo predominantemente um gênero de música preto e de periferia. Nesse contexto, o rap se tornou a voz das juventudes faveladas, ecoando suas lutas por meio de rimas potentes e combativas.

O hip-hop não enfrentou menos preconceitos. Artistas como Rappin' Hood, Thaíde e Mano Brown (Racionais MC’s) passaram por várias situações de racismo em que o braço armado do Estado foi utilizado para reprimir a cultura. Em uma entrevista de 2021, Rappin’ Hood relata: “A gente corria da polícia só porque fazia rap. Eles chegavam na estação e quebravam nossos discos”.

De lá para cá, a realidade de quem faz a cultura hip-hop no Brasil não melhorou muito. Ainda hoje, artistas enfrentam essa mesma repressão em territórios periféricos das cidades. Por isso, é parte da luta antirracista a criação de políticas públicas que contribuam para que todos os elementos da cultura hip-hop figurem como potência criativa na vida de quem produz e trabalha.

PL do Hip-Hop aprovado em BH

Tenho orgulho de construir um mandato a serviço da cultura hip-hop de Belo Horizonte. Foi no Duelo de MCs que comecei a ocupar o Centro da cidade e me interessar pela organização política. Hoje posso dizer que, a partir de uma construção coletiva com artistas e produtores, somos a primeira capital a aprovar uma legislação de incentivo às batalhas de MCs, slams e saraus.

O Projeto de Lei (PL) do Hip-Hop institui o Programa Municipal de Incentivo às Batalhas de Rimas e MCs, aos Saraus e aos Slams. Além de BH, apenas a cidade de Niterói incluiu o apoio à cultura hip-hop em suas políticas públicas.

O poder público tem a obrigação de reconhecer as pessoas que estão no corre como agentes de formação cultural e de profissionalização do município, fortalecendo as pessoas que já trabalham, muitas vezes, sem nenhum apoio institucional, gerando emprego e renda na cidade.

O PL também determina a inclusão dos eventos no Calendário Oficial de Eventos do Município (Cofem), passo importante para que agentes privados e outras instituições também apoiem a realização de eventos do gênero na cidade.

Transformar o apoio do município em política pública facilita, por exemplo, a instalação de estruturas de recolhimento de lixo e energia elétrica nos locais de realização desses eventos, subsídio essencial para as apresentações acontecerem com qualidade.

Nossa luta é coletiva

Reconhecer quem está fazendo política e produzindo cultura, resistindo e reinventando a ocupação do hip-hop nas ruas também é fundamental. Para contar a verdadeira história de resistência, entregamos o diploma de Honra ao Mérito ao Monge MC e o Colar de Honra à Letícia Fox.

Por meio de emendas parlamentares, reafirmamos nosso compromisso com a alocação de recursos e construção de políticas públicas que fujam do centro conservador e tradicional da cultura. Em 2022, destinamos R$ 400 mil para a realização do Circuito Hip-Hop do Barreiro e, neste ano, estamos construindo o encontro estadual do hip-hop, que deve ocorrer em Contagem, além de uma nova edição do Circuito, que será na Regional Norte.

Também articulamos a revitalização da pista de skate do Barreiro e das quadras no Minas Caixa e em outras periferias onde rolam as batalhas, de modo que tenham mais estrutura e se fortaleçam como um espaço que é de toda a comunidade.

A cultura hip-hop não é apenas música e dança. É um movimento de resistência, criatividade e mudança. Vamos unir esforços para garantir que o legado do hip-hop continue inspirando as gerações futuras e transformando nossas comunidades. Do Barreiro à Vilarinho, é um prazer ver Belo Horizonte fazendo cultura com a periferia e com a juventude negra, e valorizando os talentos que a gente produz.

Um salve para geral do hip-hop. Viva nossa força!


 

Iza Lourença é vereadora em BH pelo PSOL

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Larissa Costa