A nova embaixadora dos EUA na Guiana, Nicole Theriot, disse que Washington deve fortalecer as relações em matéria de defesa e segurança com o país sul-americano. As declarações ocorreram na noite desta segunda-feira (06), durante cerimônia de recepção de Theriot, que entregou suas credenciais diplomáticas no final de outubro e acaba de assumir o posto.
"Junto com a equipe da embaixada dos EUA, vou trabalhar para apoiar nossa parceria bilateral em defesa que fortalecerá nossos objetivos comuns em segurança, abordará ameaças transversais e avançará em matéria de segurança regional", disse a embaixadora.
A promessa ocorre em meio à campanha para o referendo convocado pela Venezuela para reivindicar a sua soberania sobre o território do Esequibo, localizado na fronteira com a Guiana e em disputa entre os dois países desde o século 19.
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Na manhã desta quarta-feira (8), Caracas condenou as falas de Theriot e acusou o país vizinho de agir para "proteger empresas energéticas estadunidenses". Em comunicado, a Chancelaria venezuelana rechaçou "de maneira contundente o anúncio conjunto realizado pela Guiana e pelo governo dos EUA que dão conta de um aumento da presença militar na região".
As acusações da Venezuela se referem às operações da empresa norte-americana Exxon Mobile na costa da Guiana. A multinacional opera poços offshore com capacidade estimada em 11 bilhões de barris de petróleo. A exploração se iniciou em 2015, após a descoberta dos recursos e reacendeu a disputa territorial entre os países, já que grande parte das plataformas estão localizadas na costa do Esequibo.
"A Venezuela alerta a comunidade internacional e especialmente os países do Caribe sobre as perigosas manobras da Guiana, que pretendem escalar um conflito motivado pelo apetite financeiro sem limites da sua classe dirigente e sua recusa em cumprir com as normas internacionais, mantendo a exploração de petróleo em uma área marítima sem delimitação com a Venezuela", afirmou Caracas no comunicado desta quarta-feira.
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A presença de militares estadunidenses na Guiana foi divulgada no início de setembro, quando a própria embaixada dos EUA no país anunciou a chegada de uma unidade das Brigadas de Assistência de Forças de Seguranças, divisão que responde ao Exército dos EUA destinada a operar em outros países. "O exercício envolverá sessões de planejamento estratégico para fortalecer a prontidão militar e a capacidade de resposta a ameaças de segurança de ambos países", disse a embaixada em comunicado.
Ainda em setembro, o secretário para Assuntos Ocidentais do Departamento de Estado dos EUA, Brian Nichols, já havia manifestado o apoio de Washington à exploração petroleira na costa do país e disse que "os esforços para infringir a soberania da Guiana são inaceitáveis".
Caso judicial vive escalada de tensão
O caso começou como uma disputa judicial que ainda corre na Corte Internacional de Justiça - tribunal da ONU localizado em Haia. Em 2018, a Guiana levou a contenda à corte sem anuência de Caracas, que reivindica os Acordos de Genebra assinados em 1966 entre a Venezuela e o Reino Unido. À época, a Guiana ainda era uma colônia britânica e passou a ser signatária do acordo após declarar sua independência.
No entanto, nos últimos meses, a disputa ganhou contornos de tensão após Caracas e Georgetown começarem a trocar uma série de acusações e provocações envolvendo o Esequibo. O governo e a oposição da Guiana chegaram a assinar um documento conjunto para rechaçar o referendo convocado pela Venezuela e afirmar a disposição de ambas as partes em defender o país.
Nesta terça-feira (7), o primeiro-ministro guianês, Mark Phillips, disse que "o tempo de negociação [com a Venezuela] se esgotou" e que o país vai se ater à decisão do Tribunal de Haia. "Estamos enviando uma mensagem de unidade diante do perigo claro e vigente do governo de Nicolás Maduro", disse o premiê.
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O presidente do país, Irfaan Ali, também classificou as posturas de Caracas como "ilegais" e prometeu "resistir" diante dos "esforços venezuelanos para ferir sua soberania". Ali já recebeu o apoio da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da Caricom (Comunidade do Caribe).
Já a Venezuela vem denunciando os interesses da Exxon Mobil e acusando Georgetown e os EUA de atuarem para proteger a exploração petroleira da empresa na região. Na noite desta terça-feira, o presidente venezuelano Nicolás Maduro classificou as declarações do primeiro-ministro guianês como "covardes".
"O presidente da Guiana é um fantoche da Exxon Mobil e do Comando Sul dos EUA, aparece vestido de militar, insulta a Venezuela e entrega licenças para perfurações petroleiras em águas [do estado venezuelano] de Delta Amacuro e em águas por delimitar", disse.
Edição: Leandro Melito