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Coluna

A defesa da vida do povo palestino não pode ser confundida com defesa de terrorismo

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São mais de 8.500 mortos em Gaza - Camila Araujo
Argumentos de deputado reforçam a islamofobia, plena de preconceitos e estereótipos

A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília - Seção Sindical do ANDES-SN (ADUnB-S.Sind) tem acompanhado, com preocupação, o desenrolar da guerra que o Estado de Israel deflagrou contra o povo palestino.

Além disso, o Sindicato aflige-se ainda com posicionamentos apresentados por autoridades brasileiras, como é o caso do documento elaborado e publicizado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL/GO), destinado à Embaixada dos Estados Unidos (EUA), que tem como assunto: "Informações sobre apoiadores de grupos terroristas no Brasil que visitam os EUA”.

A ADUnB-S.Sind repudia de forma veemente este ofício endereçado à embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley. Nele, o parlamentar envia uma lista com 132 nomes de ativistas, estudantes, professores, parlamentares, organizações, instituições, partidos políticos, com o objetivo de limitar a possível entrada destas pessoas ou organizações no país americano, por supostamente, terem apoiado publicamente o ataque do Hamas contra Israel no dia 7 de outubro. O parlamentar aponta ainda que essas pessoas e organizações apoiam o terrorismo e portanto, representam ameaça ao país americano.

Por ora, cabe destacar que situações tão complexas como a que se apresenta no mundo, envolvem questões de geopolítica e apontam reflexões mais aprofundadas, sequer consideradas pelo parlamentar. Na ocasião, o deputado reproduziu um discurso colonialista que legitima o massacre de uma ‘nação’ sobre a outra, no caso a Palestina.

Os argumentos apontados pelo parlamentar reforçam a islamofobia, plena de preconceitos e estereótipos, além de invisibilizar o genocídio étnico, em curso, contra o povo palestino.

Conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza, até o dia 31 de outubro, foram mais de 8.500 mortos em Gaza, mais da metade são crianças. Por outro lado, em Israel foram mortas 1.400 israelenses e cidadãos estrangeiros, a maioria no dia 7 de outubro.

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Outra questão que envolve preocupação da ADUnB-S.Sind, é que Gustavo Gayer (PL/GO) cita professores e estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Entre eles está o professor emérito da UnB Nagib Nassar, reconhecido pelo legado científico e acadêmico para o país, por meio de pesquisas para melhoramento genético de plantas; os docentes do Instituto de Ciências Sociais: Berenice Bento, do Departamento de Sociologia, e Jacques de Novion, docente do Departamento de Estudos Latino-americano, ex-presidente deste sindicato.

Em um país com histórico de repressão, perseguição contra docentes, estudantes, sindicalistas, movimentos sociais e em tempos de democracia fragilizada, sobretudo nos últimos anos com aumento do fascismo e da violência política, é imprescindível que o campo democrático deste país se levante contra ações que tenham como pano de fundo violar o direito de cidadãs e cidadãos brasileiros a se manifestarem publicamente diante do sionismo e suas mazelas, em relação às quais a grande imprensa Ocidental se cala.

A ADUnB-S.Sind acredita que garantir o debate aprofundado, a pluralidade e a liberdade de expressão é fundamental para a proteção da democracia.

Por isso, defender a vida de um povo que tem sido injustiçado e massacrado ao longo das últimas décadas não pode ser confundido com defesa de terrorismo.

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*Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB - S. Sind. do ANDES-SN)

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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Edição: Márcia Silva