No dia 13 de outubro, a influenciadora bolsonarista Karol Eller, 36, cometeu o “autoextermínio”, conforme definição da psicóloga Dalcira Ferrão. Um mês antes, ela esteve no retiro Maanaim, da Assembleia de Deus Rio Verde, em Goiás, onde disse ter renunciando à “prática homossexual”. Ativistas denunciam que Karol estava sendo submetida à chamada “cura gay”.
“Vocês sabiam que eu me converti em Rio Verde – Goiás? Pois é, no retiro Maanaim. Foi assim que eu decidi renunciar os desejos da carne para seguir a Cristo”, escreveu a influenciadora no Instagram, em 5 de outubro, oito dias antes de sua morte.
Na segunda (16), em um vídeo publicado no Instagram, o presidente da Assembleia de Deus Rio Verde, pastor Wellington Rocha, disse que Karol Eller estava “aflita” quando o procurou, três meses antes de tirar a própria vida. “Ela se abriu comigo, era muita dor. Uma história de abusos, fuga e muita dor”, falou, argumentando que a sexualidade da fiel nunca foi “tabu ou problema” para ele, nem para os demais frequentadores da igreja. “Nunca propomos nenhuma cura”, afirmou.
A Diadorim questionou a organização do retiro Maanaim Rio Verde sobre a prática de “cura gay”, mas não foi respondida.
No mesmo dia, os deputados federais Erika Hilton (PSOL-SP), Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Luciene Cavalcante (PSOL-SP) protocolaram, no MPF (Ministério Público Federal), um pedido de investigação contra a igreja.
O MPF informou que recebeu a representação na terça (17). “O caso está em fase de análise preliminar para definição dos próximos passos, o que pode significar instauração de inquérito, arquivamento ou outras medidas cabíveis. Não há prazo para conclusão dessa avaliação inicial.”
“Pedimos que a Assembleia seja investigada por homotransfobia, tortura e incitação ao suic*dio, em Rio Verde e também nas outras localidades em que esse retiro é realizado”, detalhou Erika Hilton no Instagram.
A deputada lembrou que as “terapias de conversão” são vedadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Em sua resolução nº 001/99, o órgão defende que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e, portanto, não deve ser patologizada – o mesmo vale para a bissexualidade e a transgeneridade.
Ainda assim, uma pesquisa do Instituto Matizes em parceria com a All Out mostra que essas práticas de “correção” são largamente utilizadas no Brasil, inclusive em contextos de saúde física e mental, como em consultas com psicólogos e psiquiatras. Elas também são praticadas em contextos escolares, familiares e religiosos.