A Operação Maré, das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, tem causado diversos impactos na vida dos moradores do Complexo da Maré, na zona norte da cidade. Nas últimas semanas, as 44 escolas da região tiveram que suspender suas atividades, deixando quase 14 mil crianças e adolescentes sem aulas. Não é a primeira vez que estudantes da Maré são prejudicados: só no ano de 2022, 27 operações aconteceram nas 16 favelas que compõem o Complexo.
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Para Marcele Frossard, coordenadora de Programa e Políticas da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a violência traz diversas consequências para esses estudantes, muito além do que a perda do conteúdo das aulas.
“Professoras muitas vezes desistem de dar aula nesses territórios, existe dificuldade que a alimentação escolar adequada chegue nessas escolas por problemas de logística, e em relação às crianças e adolescentes é medo, insegurança, traumas dos mais variados possíveis e é sempre ruim comparar a situação do Rio de Janeiro com um estado de guerra, porque guerra acontece em um período e depois acaba e no Rio de Janeiro é constante”, explica.
Marcele acredita que o fechamento de escolas, em consequência da violência, impacta diretamente o desenvolvimento das crianças, principalmente as que estão em idade de alfabetização.
“O contexto de ouvir tiros a madrugada inteira, de ter a sua casa invadida, de ver pessoas serem assassinadas na porta da sua casa, o contato com a morte de uma maneira muito precoce, de ter familiares assassinados ou presos, isso tudo é um contexto de vivência que quando a gente fala sobre o fechamento das escolas a gente não considera, mas que impacta diretamente o desenvolvimento e as condições para que essas crianças frequentem a escola e consigam efetivar esse direito”.
A professora de história Andreza Prevot trabalha em uma escola municipal da Maré. Ela conta que é necessário reconstruir a relação dos estudantes com a escola toda vez que as aulas são suspensas, e que isso se torna o conteúdo principal, sendo deixado de lado o planejamento anterior das aulas.
“A experiência da escola nesses dias que deixa de acontecer não se recupera imediatamente quando eles retornam, porque quando eles retornam a gente tem que trabalhar as questões do luto de viver sob aquela violência, o conteúdo se transforma nisso, a gente vai dialogar, vai receber, vai acolher, vai passar dias fazendo isso”, finaliza.
De acordo com a pesquisa "Estudo Infâncias e Adolescências Invisibilizadas em territórios Urbanos em Situação de Violência", feita pela Campanha Nacional do Direito à Educação, crianças e adolescentes são o grupo mais afetado pela supressão de direitos nas favelas. A educação é o segundo direito mais negado para eles, atrás apenas do saneamento básico.
Edição: Eduardo Miranda