As queixas de trabalhadores da área de telemarketing sobre condições precárias de trabalho vão desde assédio moral, escalas abusivas, alta rotatividade e pausas controladas. O Ministério Público do Trabalho (MPT) recebe duas denúncias por dia sobre proibição do uso do banheiro no trabalho, de acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A área de call center está entre as que mais registram irregularidades sanitárias no ambiente de trabalho.
Alessandra Alves tem 31 anos e trabalha como operadora de telemarketing desde 2010, quando ingressou no seu primeiro emprego. Ela conta que acabou de voltar da licença maternidade e corre o risco de ser demitida.
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“Cheguei para voltar a trabalhar não tinha mais acesso a nada, nem ao meu contracheque, ao computador da empresa, tudo bloqueado, porque é praxe: voltou de licença maternidade, eles mandam embora. No entanto, eles me mandavam ir para nada, para ficar olhando para o teto, me colocaram lá pra me sentir inútil e isso desencadeou crises de ansiedade. Eu fui na médica e ela me deu mais 30 dias para ficar em casa, mas não sei como vai ser quando eu voltar”, explica.
A operadora relata ainda que ela e os colegas de trabalho têm direito apenas a três pausas durante o dia, sendo duas de 10 minutos e uma de 20 minutos. O uso do banheiro deve ser feito durante as pausas e é controlado. Ela conta que em uma antiga empresa que trabalhou sofreu um episódio que a traumatizou.
“A pressão psicológica era todo dia uma tortura. Teve um episódio comigo que eu vi que era meu limite. Uma supervisora que veio de São Paulo chegou e colocou no grupo de Whatsapp de todos os funcionários ‘Alessandra está há 30 minutos no banheiro, o que está acontecendo?’. Para todo mundo ler”, conta.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Estado do Rio (Sinttel Rio), Ricardo Pereira, explica que é importante que esses trabalhadores consigam se organizar para evitar abusos no local de trabalho e garantir que seus direitos sejam respeitados.
“As empresas fecham as portas nos grandes centros, principalmente Rio e SP, e vão para o Nordeste, aí lá pagam menos que um salário mínimo, não dão ticket alimentação, não dão plano de saúde. Então, a vitória que a gente conquista aqui vira temporária e a gente acaba virando refém. Hoje, a gente está tentando se organizar a nível nacional e ter uma convenção única”.
Aproximação com sindicatos
A professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), Maria Cristina Rodrigues, é pesquisadora da área de telecomunicações. Para ela, a alta rotatividade de trabalhadores e o fato de muitos estarem ingressando no seu primeiro emprego dificultam a aproximação com o sindicato.
“Muitas vezes a gente perguntava nas pesquisas quais as conquistas a pessoa identificava e se a trabalhadora ficava um ano, um ano e meio na empresa ela não percebia, não era possível que ela conhecesse algum tipo de ação sindical, então ela não associava alguns benefícios, alguns direitos que eram colocados em acordo como ação sindical, ela não acompanhava esse processo”, explica.
Para Ricardo, é essencial que sindicato e trabalhadores estejam próximos no dia a dia do trabalho. “Esse ano a gente está começando a ver a luz no fim do túnel, voltando as atividades dentro das empresas, conversando com os trabalhadores, porque é isso que a gente precisa, estar no dia a dia do trabalhador porque só assim a gente consegue entender o que a empresa A está fazendo, o que a empresa B está fazendo, porque quando a gente dá as costas eles mudam tudo”, finaliza.
Edição: Mariana Pitasse