Plano de lutas

CUT encerra congresso com alerta de 'inimigo à espreita' e direitos a recuperar e ampliar

Central renovou a diretoria e aprovou plano de lutas para os próximos quatro anos

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No encerramento do Concut, quase 2 mil delegados aprovaram o plano de lutas para os próximos quatro anos - Letícia Alves/ CUT

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) encerrou seu congresso nacional neste domingo (22) com a avaliação de que – apesar de ter o governo como aliado –, para recuperar e ampliar direitos e retomar um projeto de país é preciso se manter na rua. A sombra conservadora segue alta, não só no Brasil. “O fascismo ainda não foi derrotado completamente”, afirmou João Barreiros, dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) e representante da Confederação Sindical dos Países de Língua Portuguesa (CSPLL).

Entre os 1.800 delegados e 200 convidados internacionais, foram vários os alertas ao avanço da extrema direita. “Por mais que tenhamos Lula na Presidência, a pressão da direita contra nossos direitos é muito violenta. Não vamos deixar andar para trás”, disse o ex-secretário-geral da CUT Gilmar Carneiro. “Com o neoliberalismo, vamos à falência como projeto de país.” Ele participou do ato de lançamento do livro A nova ordem – Luiz Gushiken, com 67 artigos sobre o ex-dirigente bancário e do PT, que morreu em 2013. A obra está disponível em PDF no site da Fundação Perseu Abramo (FPA).

Nova ordem mundial

Durante a plenária final, foram exibidos vídeos em que Gushiken fala da importância da redução da jornada para a criação de empregos e sobre um nova ordem (“corpo federado mundial”) se sobrepondo aos Estados nacionais. “Passados mais de 30 anos [desde a promulgação da Constituição], a redução da jornada ainda é um tema que esta na pauta dos trabalhadores”, lembrou Fernanda Otero, organizadora do livro.

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Assim, é preciso também avançar na organização sindical. “Atuar só nos locais de trabalho não é mais suficiente”, afirmou o presidente reeleito da CUT, Sérgio Nobre. “Se queremos representar todos os trabalhadores precisamos estar nos territórios. Isso não significa disputar espaços com os movimentos populares, mas para fazer o nosso trabalho, o trabalho sindical, para falar de trabalho. Para falar sobre direitos trabalhistas e lutar por eles juntos com as comunidades”, acrescentou. “O grande desafio nosso é o que a CUT tem de estar onde o povo está.”

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Da resistência para a reconstrução

Para a vice-presidenta reeleita, Juvandia Moreira, se o congresso anterior, em 2019, foi marcado pela resistência (era o primeiro ano do governo Bolsonaro), o deste ano, o 14º da história da CUT, é o da reconstrução e de fortalecimento da democracia. Com muitos desafios no caminho, lembrou.

“Não dá para pensar em democracia sem fortalecer os sindicatos, sem pensar no trabalho decente, no combate à desigualdade, no desenvolvimento sustentável. Não dá para pensar nisso sem fazer a reforma tributária”, citou.

Nesse sentido, entre as resoluções aprovadas no último dia de congresso esta a realização de uma marcha a Brasília, provavelmente ainda no primeiro trimestre de 2024. “Para reforçar nossas pautas, nossa agenda”, observou Juvandia.

Direitos e negociação coletiva

Trata-se de um governo em disputa, disse a dirigente da CUT. Sem mobilização, o sistema financeiro e o próprio Congresso continuarão representando empecilhos às pautas sociais. É preciso também reforçar a negociação coletiva, um dos temas discutidos em grupo de trabalho tripartite (com representantes do governo, dos trabalhadores e de empresários). Até para evitar a ascensão do autoritarismo e da extrema direita, como na história recente do país. “É o que acontece quando você enfraquece as organizações democráticas. Sindicato é parte da democracia”, reforça a vice-presidenta da CUT.

No encerramento do 14º Concut, foi aprovado o plano de lutas para os próximos quatro anos. Um dos objetivos é mostrar à sociedade a importância dos sindicatos na garantia de empregos, direitos e cidadania.

No penúltimo dia de congresso, a central homenageou os vencedores do 4º Prêmio CUT. Nesta edição, padre Júlio Lancellotti (Democracia, Cidadania e Direitos Humanos), a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (Democracia e Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras), a ativista quilombola Mãe Bernardete (Democracia e Justiça pelos Povos Originários, das Águas e das Florestas, in memoriam), o jornalista Leandro Demori e a Revista Fórum (Democratização da Comunicação, Imprensa Livre e Combate às Fake News), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (Democracia e Liberdade no Brasil e no Mundo).

Com o metalúrgico Sérgio Nobre na presidência e a bancária Juvandia Moreira na vice, o secretário-geral passa a ser Renato Zulato (químicos). Foram criadas quatro secretarias: Economia Solidária, LGBTQIA+, Transporte/Logística e Aposentados, Pensionistas e Idosos.

Além disso, nos quatro dias de congresso foram muitas celebrações pelos 40 anos da CUT, completados em agosto. A central foi criada ainda sob o contexto da ditadura e também sob a descrença de setores da esquerda, como lembraram alguns de seus veteranos. “Organizar a CUT foi um desafio de uma geração inteira. Temos que estar atualizando essas transformações”, lembrou Gilmar.