Sete em cada 10 casas com crianças no Complexo do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, sofreram com algum grau de insegurança alimentar. É o que revela uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) divulgada na última segunda-feira (16), Dia Mundial da Alimentação.
De acordo com os dados, 75% das casas com crianças até 6 anos conviveram com algum nível de insegurança alimentar, que vai de moderada à grave, nos últimos 3 anos. Outros 11% dos familiares relataram que suas crianças ficaram o dia todo sem comer porque não havia dinheiro suficiente para comida.
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O levantamento “Indicadores de Cidadania do Ibase – Insegurança Alimentar no Complexo do Alemão" traçou um comparativo com a mesma pesquisa realizada em 2019. Ao todo, foram mais de 8 mil moradores entrevistados. A abordagem contou com a participação de pessoas das 13 comunidades do Alemão, em sua maioria mães que estavam desempregadas, e que foram capacitadas para coletar os dados em campo.
Rita Corrêa Brandão, diretora do Ibase, explica que a segunda etapa da pesquisa conseguiu envolver mais pessoas para mostrar uma dimensão detalhada de cada território. Assim, os dados podem ajudar na formulação de políticas públicas de combate à fome.
“A gente queria dados que pudessem falar da Fazendinha, especificamente, ou do morro do Adeus. Então, a gente aumentou o questionário e criou a possibilidade de ter várias micro pesquisas. Dessa forma, podemos produzir dados para cada uma das localidades e pensar políticas públicas onde ela precisa ser mais explorada”, afirma Rita.
Redução no consumo
A pesquisa identificou que para crianças e adultos não ficassem sem comer, as famílias reduziram a quantidade de consumo diário ou a qualidade dos produtos. Esta foi a realidade de 40% dos adultos que diminuíram a quantidade de alimentos ou pularam refeições no dia.
Já no caso das crianças de até seis anos, a pesquisa investigou também as famílias que tiveram que comprar alimentos de baixo custo. Dos entrevistados, 68,3% afirmaram usar a estratégia para não deixar as crianças sem algum tipo de alimentação.
Além do Ibase, as pesquisas também contaram com a participação do Instituto Raízes em Movimento e da ONG Educap. Para a socióloga Joice Lima, ex-moradora do Complexo do Alemão, os dados são alarmantes e o tema da fome é sensível de ser abordado com as famílias.
“Vale a gente ressaltar que falar de fome é um dado muito sensível, então, nem todas as famílias estão abertas para falar de uma forma tranquila sobre isso. A gente sabe que envolve as questões inclusive a vergonha mesmo de você expor que está numa situação tão vulnerável”, reforça a pesquisadora.
“Quando uma criança começa a passar fome dentro de casa, toda a família já está numa situação muito grave. A maioria das famílias vão tentando regular esse alimento para que não falte para as crianças, mas chega um momento em que, infelizmente, isso não acontece”, finaliza Joice.
Edição: Clívia Mesquita