Ataques israelenses na Faixa de Gaza levaram ao fechamento do único hospital em funcionamento no bairro de Beit Hanoun, de acordo com o Ministério da Saúde palestino, nesta segunda-feira (9). O berçário da maternidade do Complexo Médico Al-Shifa, o maior da região, também foi atingido.
"A ocupação israelense colocou o Hospital Beit Hanoun (o único na cidade) fora de serviço em decorrência de repetidos ataques nas proximidades do hospital, o que levou à impossibilidade de entrada e saída de funcionários, além de danificar grandes partes dele e interromper seus serviços", disse o ministério em sua página oficial no X, ex-Twitter.
"O bombardeio fez com que partes do teto caíssem perto de um dos bebês prematuros, que foi transportado pela equipe médica", disse. "As imagens mostram os danos causados ao berçário do Complexo Médico Al-Shifa em decorrência do ataque da ocupação ao entorno do complexo."
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Mohammed Abu Mughaiseeb, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Gaza, afirmou que o sistema de saúde do território pode entrar em colapso nos próximos dias devido ao bloqueio a energia, medicamentos e alimentos imposto aos palestinos por Israel.
"Agora também há cortes nas telecomunicações e na internet em várias áreas", disse à Al Jazeera. Se não houver uma regressão na escalada de violência, Abu Mughaiseeb acredita "a situação entrará em colapso nos hospitais".
O "cerco total" aos palestinos foi anunciado nesta segunda-feira (9). "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado", disse o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, referindo-se aos palestinos. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o primeiro-ministro da extrema direita, Benjamin Netanyahu.
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No sábado, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tem atuação a nível internacional, pediu à todas as partes envolvidas no conflito que garantam a segurança dos civis e das instalações médicas. A "MSF apela a todas as partes do conflito para que respeitem a infraestrutura e os profissionais de saúde. As instalações de saúde não podem se tornar alvos e os hospitais devem permanecer um santuário para as pessoas que procuram atendimento", disse a organização em comunicado publicado no site oficial neste domingo (8).
Na mesma linha, Haneen Wishah, uma das coordenadoras da Al Awda, organização que administra hospitais e serviços de emergência para feridos em Gaza, afirmou que a situação do sistema de saúde está "se deteriorando", em entrevista ao Uol.
"Aviões atingiram 130 locais na Faixa de Gaza nas últimas três horas. O número de mortos e feridos, incluindo crianças, está escalando. E devemos ficar sem medicamentos, produtos hospitalares e sem poder realizar operações nos hospitais por conta do bloqueio imposto", disse. "A saúde nunca foi simples porque estamos sob um cerco israelense que já dura 17 anos, com ataques periódicos. Agora, tudo está piorando."
"O que estou falando diz respeito à disponibilidade de medicamentos e de combustível, de funcionalidade dos hospitais. Mas eles estão bombardeando loucamente por toda parte. Hoje, nenhum lugar é seguro em Gaza, nem mesmo hospitais, nem abrigos, nem residências", afirmou Wishah.
A Human Rights Watch (HRW) lembrou que ataques direcionados a civis, bem como o corte do fornecimento de energia são punições coletivas ilegais, uma vez que são consideradas crimes de guerra. "As leis de guerra se aplicam a todas as partes em um conflito, independentemente da legalidade de sua entrada em guerra ou de desequilíbrios de poder entre as partes", disse a HRW em nota.
Desde a madrugada do último sábado (7), quando o grupo Hamas realizou uma série de ofensivas contra Israel, cerca de 123 mil pessoas tiveram que deixar suas casas na Faixa de Gaza, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta segunda-feira (9). Cerca de 70 mil palestinos buscam refúgio em escolas.
Até o momento, cerca de 1,6 mil morreram desde sábado, sendo aproximadamente 900 em Israel e 680 em Gaza, segundo jornais locais.
Edição: Thalita Pires