CENTRAL DO BRASIL

Operações policiais letais amplificam violência, avalia pesquisador; foco deve ser base econômica de grupos criminosos

Daniel Hirata sugere que deve haver um controle democrático da atividade policial, sobretudo no Rio de Janeiro e Bahia

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Protesto, no Centro de São Paulo, contra a Operação Escudo, que deixou mais de 20 pessoas mortas na Baixada Santista - Junior Lima (@xuniorl)

O coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), Daniel Hirata, avalia que a ação repressiva e letal das polícias não resolve o problema da violência urbana. 

Ele participou ao vivo do programa Central do Brasil desta quarta-feira (4) para analisar o Programa Nacional de Enfretamento às Organizações Criminosas, lançado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública nesta semana.

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O ministro Flávio Dino anunciou o investimento de R$ 900 milhões. Entre os principais eixos do programa está a integração entre os órgãos de segurança no país. 

Na avaliação de Hirata, as operações têm produzido um alto grau de letalidade e gerado pouco resultado. 

"Rio de Janeiro e Bahia são dois estados que são, particularmente, problemáticos. Nós temos uma resposta pelos governos estaduais que é absolutamente ineficaz para o enfrentamento aos grupos armados, que se baseia quase que exclusivamente em operações policiais, em ações extremamente letais das forças policiais", contextualizou. 

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"Isso só amplifica o problema e não resolve. Você tem uma liderança que é executada pelas forças policiais. Imediatamente, você terá uma disputa pela sucessão. E sabemos que, dadas as condições socioeconômicas desses lugares, o aprisionamento em massa só alimenta grupos que têm como força propulsora suas atividades nas prisões", analisou. 

A solução para esse problema, na avaliação de Hirata, é repensar a atuação das forças policiais de forma democrática. 

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"A atuação das forças policiais e dos grupos armados têm que ser pensada em seu conjunto, e não vi até agora um plano ou uma ação, por exemplo, para que se faça o controle democrático da atividade policial no Rio de Janeiro e na Bahia." 

Os dois estados têm registrado, nos últimos tempos, um alto índice de letalidade policial. Na Bahia, foram 71 mortes durante operações policiais no mês de setembro, entre elas as de um policial federal e dois militares. 

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Hirata acredita que é importante ações que mirem a base financeira das organizações criminosas e o combate à corrupção dentro das forças de segurança. 

"Esses grupos se apoiam em mercados desregulados. Às vezes, tem a presença do Estado, mas não tem a efetiva mediação pública para a regulação. Estamos falando, inicialmente, de drogas, mas também de armas e uma série de outros mercados que estão na mira desses grupos. A atuação na regulação desses mercados atacaria não somente essas bases econômicas, que permitem esses grupos acessarem as armas, como também seria uma ação muito menos letal", concluiu. 

A entrevista completa está disponível na edição desta quarta-feira (4) do Central do Brasil  no canal do Brasil de Fato no YouTube



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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras espalhadas pelo país. 

Edição: Thalita Pires