CENTRAL DO BRASIL

'A mulher que aborta é a brasileira comum', afirma médica referência em justiça reprodutiva

Helena Paro diz que já passou do momento da sociedade brasileira travar esse debate legal sobre o procedimento

Brasil de Fato|Recife(PE) |

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Na avaliação de Helena, a estigmatização e a criminalização são os principais obstáculo neste debate pela descriminalização do aborto - Fernando Frazão/Agência Brasil

Helena Paro é médica ginecologista, obstetra e tem se destacado como referência nos debates sobre justiça reprodutiva no país. É dela a ideia do primeiro serviço de aborto legal por telemedicina do Brasil.

Ela participou do Central do Brasil desta quinta-feira(28) para falar sobre as diversas manifestações no pais em defesa da legalização do aborto e sobre os principais desafios que o país enfrenta neste assunto. 

Para Helena, é urgente que a sociedade brasileira priorize na agenda pública o debate sobre o tema. 

"Eu acho que a gente passou do momento. O momento é agora. Porque mulheres, sobretudo as mulheres pretas, pobres  e mulheres que vivem em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos do nosso país morrem por abortos inseguros. O Brasil tem uma dívida histórica com a vida, com a dignidade das meninas e das nossas mulheres", denunciou. 

O Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento da ação que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A ministra Rosa Weber votou favorável. Mas, em seguida, o ministro Luís Roberto Barroso pediu destaque e agora o tema será analisado no plenário físico, sem nova data marcada. 

Leia mais ::Feito por 1 a cada 7 mulheres até 40 anos, aborto começou a ser julgado no STF; entenda o que está em jogo::

"O exemplo da Colômbia, do México, da Argentina são muito importantes para nós. Mas, a gente também como sociedade, tem que começar a se apropriar desse debate e passar a exigir que não nos matem mais. Nós não podemos permitir que matem nossas meninas e mulheres por causa de um lei injusta, por causa de uma lei que não segue as recomendações da organização mundial da saúde." 

De acordo com o Instituto Anis, a cada ano cerca de um milhão de gestações são descontinuadas no país. A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) de 2021 mostra que uma em cada sete mulheres, aos 40 anos, já interrompeu a gravidez. Das que fizeram o procedimento em 2021, 43% tiveram que ser hospitalizadas. 

Na avaliação de Helena, a estigmatização e a criminalização são os principais obstáculos neste debate pela descriminalização do aborto. Ela usou este dado da Pesquisa Nacional de Aborto para apontar que as mulheres que abortam, no Brasil, são mais comuns do que a sociedade imagina. 

"Essas mulheres são as mulheres brasileiras da nossa convivência e dos diversos segmentos sociais do nosso país. A mulher que aborta é a brasileira comum. Ela é nossa mãe, nossa amiga, irmã, tia. A pergunta que a gente faz é: essa mulher merece ser presa ou morta por recorrer a métodos inseguros? Essa é a pergunta que a gente faz neste 28 de setembro", apontou. 

A entrevista completa está disponível na edição desta quinta-feira(28) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube



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Trabalhadores em luta 

Desde o dia 15 de setembro, trabalhadores do setor automotivo estão em greve nos Estados Unidos. A paralisação é histórica, pois atinge todas as montadoras conhecidas como “as 3 grandes de Detroit”. Essa greve vem na esteira de outras lutas sociais travadas no país, tudo como consequência da queda de qualidade de vida e da crescente desigualdade.

O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Rodrigo Durão Coelho