Ao longo da sua história, a Petrobras teve papel de destaque no desenvolvimento nacional do Brasil, na geração de emprego e no desenvolvimento tecnológico. Em outubro a empresa completa 70 anos.
O Brasil de Fato conversou com o economista e técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cloviomar Cararine, para avaliar o atual cenário na empresa no campo da geração de emprego no estado do Rio de Janeiro, um dos entes federativos mais afetados economicamente pela operação Lava Jato e também comentar sobre o "retorno social" da petroleira.
Confira:
Brasil de Fato: O antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, localizado no município de Itaboraí, passa por transformações e agora se chama Polo GasLub Itaboraí. A intenção é que o local se torne referência no processamento de lubrificantes. De acordo com a Petrobras, a partir de interligações já existentes de algumas unidades do Polo com a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) será possível a produção de lubrificantes e combustíveis de alta qualidade a partir de produtos intermediários da refinaria. Qual o impacto que essa nova ‘roupagem’ do antigo Comperj pode gerar para o estado do Rio de Janeiro?
Cloviomar: Em relação ao Comperj, agora GasLub, o projeto é importante para o estado do Rio de Janeiro, principalmente para a cidade ali no entorno de Itaboraí e Maricá. Faltava muito pouco [para o término da obra] quando veio a operação Lava Jato em 2014 e a Petrobras perdeu muito dinheiro por conta de parar a obra, tinha mais de 80% construído, então para ela começar a retomar os recursos que investiu, demorou muito tempo. Não conseguiu fazer isso e, além disso, obra parada precisa de manutenção e acaba perdendo também o projeto.
Ali é uma região que tem muito a ver com a produção de gás do Pré-Sal. O GasLub vai ser fundamental para escoar o gás que hoje tem na produção do Pré-Sal e a gente não está utilizando e que é um produto de muita qualidade, mas que não chega aqui na Costa. Com a construção do GasLub a gente vai poder usar o gás que produzimos na região do Pré-Sal.
O local também é um polo de geração de emprego. Neste momento, a última informação que temos é que tem 1.200 pessoas trabalhando no GasLub, mais de 50 desses trabalhadores são da própria região e a expectativa é que chegue a quase 3 mil empregos. Então, tem essa retomada da economia local e dos empregos locais.
A Petrobras tinha apenas no Brasil a produção de lubrificantes em Duque de Caxias [RJ] e na Lubnor [Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste] no Ceará, que está em processo de venda. Então, ter mais uma produção de lubrificante no Brasil é importante.
Em março deste ano, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que a empresa vai novamente estimular o setor naval brasileiro. De acordo com ele, é importante fortalecer o setor estaleiro e a indústria naval para que possam competir no exterior. Essa medida também pode ser uma válvula propulsora para a economia do estado do Rio de Janeiro? Por quê?
A indústria naval e os investimentos da Petrobras e da Transpetro na construção de navios também é importante para a economia do estado do Rio de Janeiro. Primeiro por conta da volta dos investimentos em estaleiros, na construção de plataformas e navios no Brasil. Isso é importante porque gera emprego, tecnologia, conhecimento, renda na região onde estão esses estaleiros.
O Brasil tem uma Costa imensa e é uma potência quando a gente pensa na frota naval. O Brasil tem potencial de ter uma produção grande de navios. Pensar que toda a região do Atlântico pode parar em uma Costa brasileira. É importante que a Petrobras e Transpetro invistam na expectativa de criar e reconstruir o nosso parque de estaleiros.
Para o Rio, é essencial, porque se a gente contar que hoje no Brasil tem 48, quase 50 estaleiros em todo o páis, metade deles estão no estado do Rio. O estado tem uma concentração de estaleiros, tem uma conscentração de empregos, ou seja, tem uma mão de obra formada e qualificada que já trabalhou nesses estaleiros.
O investimento em ações da Petrobras nas áreas socioambiental, cultural e do esporte caiu consideravelmente na gestão de Jair Bolsonaro. Um levantamento elaborado pelo Dieese/FUP com base nos relatórios sociais da petroleira aponta que entre 2019 e 2022, a empresa investiu R$154 milhões distribuídos principalmente para a área socioambiental. O valor é inferior aos R$ 196 milhões investidos durante o mandato de Michel Temer, que esteve na Presidência da República de 2016 a 2018. Do ponto de vista do desenvolvimento nacional, qual a importância deste retorno financeiro da empresa para a sociedade brasileira? O senhor destacaria alguma ação em especial da Petrobras?
Importante que a atual gestão retome esses investimentos, eles cairam muito na gestão Temer e Bolsonaro. Um sinal positivo foi o edital que ela lançou no final do ano passado e que agora já divulgou a primeira leva de projetos que foram aprovados e se olharmos esses projetos, tem dos pontos que merecem destaque. São projetos que tem como foco atuar em regiões no Nordeste e Norte. Esse é um ponto positivo porque ajuda a reduzir a desigualdade regional.
Segundo que o edital abrange projetos que atuam nos entornos das grandes obras feitas pelas Petrobras. Tem um volume grande de investimento nesses editais entorno da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, além de espalhar o investimento, também investe em regiões afetadas por obra da Petrobras. Toda a construção da refinaria Abreu e Lima criou uma série de gargalos e dificuldades sociais entorno da refinaria e das obras. Ter projeto que ajude a população é importante.
Tem ainda todos os projetos de incentivo ao esporte e cultura, que eu espero que ela retome. A Petrobras é fundamental no projeto de cinema, teatro e cultura brasileira que perdemos na gestão Temer e Bolsonaro. Voltar a ter investimento na cultura é fundamental.
Edição: Eduardo Miranda