A privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e das linhas públicas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) defendida pelo governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), será discutida com a população por meio de um plebiscito popular informal. A mobilização pretende colher um milhão de votos até o dia 4 de outubro em todas as regiões do estado. A votação começou no último dia 5.
A ação, organizada por trabalhadores, centrais sindicais e movimentos populares, faz parte da campanha para barrar as tentativas de concessão de serviços públicos à iniciativa privada.
Para participar, os cidadãos devem comparecer em algum ponto de coleta de votos, que estão localizados e identificados com urnas, sobretudo nas estações do Metrô e da CPTM, em terminais de ônibus, postos de trabalho e em locais de grande circulação de pessoas.
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Segundo Marisa Mendes, que há 25 anos trabalha como operadora de trens da Linha 1 - Azul do Metrô, o objetivo do plebiscito é ouvir a opinião dos moradores sobre a privatização, mas também levar informações sobre os impactos das concessões.
“Nós já tivemos algumas linhas privatizadas no Metrô e na CPTM, e o resultado dessa privatização foi uma piora de serviço para a população”, afirma.
A trabalhadora, que também compõe a Federação Nacional dos Metroferroviários (Fenametro), explica que são as entidades que estarão colhendo os votos na realização do plebiscito.
“Infelizmente, não é um plebiscito que está sendo feito pelo governo. Nós vamos divulgar esse plebiscito nas redes sociais, vamos usar esse plebiscito para também fazer parte da nossa luta, divulgar com os deputados, com o governo e unir a população, mostrar qual é a real vontade da população, se é privatizar ou não”, pontua.
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Rene Vicente, trabalhador da Sabesp e membro do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estado de São Paulo (Sintaema), ressalta que o principal intuito do plebiscito é dialogar com a população, que será diretamente afetada pela decisão do governo.
“A CPTM tem uma função importante para o povo de São Paulo, o Metrô tem uma função importante, e a Sabesp, que é a principal empresa de saneamento do Brasil e da América Latina, também tem uma fundamental importância para atender as demandas do povo de São Paulo”, aponta.
Precarização dos serviços
Marisa Mendes avalia que a privatização tende a intensificar problemas que já fazem parte do dia a dia da população paulista e que afetam, sobretudo, as mulheres.
“A privatização piora os serviços. A gente já tem um transporte superlotado na cidade de São Paulo. Todo mundo sofre com essa questão, tanto os funcionários como a população. Mas as mulheres são as que mais sofrem, porque ainda tem o assédio sexual dentro do transporte”, salienta.
Segundo ela, o diálogo com as usuárias do transporte público é uma frente prioritária da campanha de mobilização.
“Tem esse objetivo, também, de colocar as mulheres na luta contra a privatização, porque vai piorar os serviços e vai ficar mais superlotado. Infelizmente, pelo machismo e pela situação de banalização da violência contra a mulher que nós vivemos nesse capitalismo, as mulheres vão ser mais prejudicadas também na privatização”, explica.
Plebiscitos Populares
Historicamente construídos no Brasil como uma ferramenta de mobilização dos movimentos populares e de diálogo sobre pautas de interesse da população, os plebiscitos populares já garantiram importantes processos e inclusive vitórias, na perspectiva dos movimentos populares. Um exemplo é a não entrada do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), em 2002.
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Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular, ressalta que as três empresas paulistas que estão na mira das privatizações “são estratégicas para o desenvolvimento econômico e social do estado”. Ele aponta que “é fundamental” a unidade popular para barrar o processo.
“Os movimentos populares têm experiências bem sucedidas em construir plebiscitos populares no Brasil. E esse plebiscito aqui no estado de São Paulo, eu tenho muita certeza de que nós vamos fazer um grande processo para barrar a privatização que o governador Tarcísio tenta fazer no estado de São Paulo contra o patrimônio do povo paulista”, afirma.
Próximos passos
Após a colheita de votos, Rene Vicente explica que as assinaturas serão contadas e divulgadas para que o resultado seja de conhecimento público. “Vamos mostrar para o governo do estado que o caminho da privatização não é o caminho que o povo paulista quer”, defende.
Com parte das mobilizações, as entidades preparam para outubro um dia estadual de paralisação das três categorias.
Edição: Geisa Marques