Os chefes de Estado do Grupo dos 20, também conhecido como G20, terão um compromisso em Nova Déli, na Índia, neste final de semana. Nos dias 9 e 10 de setembro, a cidade os receberá para o evento que terá como mote um inscrito em sânscrito cuja tradução aproximada é "Uma Terra, uma família, um futuro".
Apesar da frase, a reunião ocorre em meio a transformação das relações internacionais e será difícil encontrar consensos com ausências importantes e divergências em tópicos como a guerra da Ucrânia.
Há poucas semanas, o Brics se expandiu ao anunciar a entrada de seis novos países: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia. Além disso, o presidente da China, Xi Jinping, não viajará para a Índia, assim como o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Para Leonardo Ramos, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), será “interessante” ver como os novos membros do Brics vão se comportar e "se vai ter algum tipo de aliança dentro do bloco para pensar determinadas agendas".
Sem finalidade
Todos os membros originais do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), além da África do Sul que entrou no bloco posteriormente, já fazem parte do G20.
A Argentina entrou para o Brics e já fazia parte do G20, além de o Egito ser um convidado na cúpula indiana e ter também entrado para o bloco dos países emergentes.
“O G20, diferente do Brics, diferente do G8, não é um agrupamento de Estados com uma certa agenda mais próxima. Vamos ver o que vai ser do Brics, com a expansão, mas isso é uma outra história. Mas o G20 é claramente um agrupamento de Estados com visões diferentes do sistema, Estados emergentes, potências médias, mais potências desenvolvidas, G7 mais alguns emergentes. Então não é um lugar fácil de se encontrar consenso se não tiver um problema urgente para ser resolvido”, diz Ramos ao Brasil de Fato.
O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves destaca que o G20 ganhou o formato que conhecemos hoje, com reuniões periódicas de chefes de Estado, como uma resposta à pouca representatividade do G8, uma agremiação ainda menor de países responsáveis por discutir a ordem global.
Com a crise econômica de 2008, o G20 foi impulsionado com a proposta de incluir na mesa de conversas “outros países, sobretudo países da periferia haviam adquirido importância ecnômica muito grande e não poderiam ficar de fora da discussão de problemas globais”, diz o professor da Uerj. Contudo, para Gonçalves, com a criação do Brics, o “G20 fica completamente sem função”.
“A mídia de uma maneira geral, e sobretudo a mídia brasileira, procura apresentar o Brics como apenas um grupo econômico de economias periféricas bem sucedidas, capitaneadas pela China. Mas não é isso, o Brics não é isso. A grande mídia não entende, ou faz questão de mostrar que não entende, se faz de desentendida, porque o que está em questão é a ordem internacional. Ou seja, o que está em questão são as regras que regem as relações internacionais”, diz Gonçalves.
Para ele, o Brics surge para questionar a ordem internacional em que potências podem invadir países e se colocarem acima das regras internacionais, com os Estados Unidos liderando essa postura.
“Não se consegue uma posição consensual, muito menos unânime, a respeito de políticas relativas aos bens públicos internacionais, sobretudo agora com a crise da Ucrânia, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e a criação do Brics, o G20 fica completamente sem função."
"O G20 é uma demonstração do esvaziamento que passa a ordem internacional que fora comandada pelos EUA e pelos seus aliados da Europa, o Japão e Canadá. Portanto nós estamos vivendo uma fase de transição”, diz o pesquisador em relações internacionais da Uerj.
“O novo ainda não apareceu com todas as suas cores, toda a sua nitidez, e o velho já não funciona mais como funcionava antes”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho