Na última quarta-feira (30), a Justiça do Rio de Janeiro decidiu manter o Estádio São Januário, do Vasco da Gama, fechado para o público. A interdição tem sido questionada por torcedores de diversos clubes cariocas nas redes sociais. Além disso, a decisão foi chamada de "racista e elitista" por movimentos de favelas.
Isso porque, em dias de partida, a movimentação de torcedores no entorno do estádio é fonte de renda para moradores de três comunidades na zona Norte do Rio de Janeiro. Um estudo da prefeitura calculou que a interdição levou a queda de 60% na renda de comerciantes que dependem dos jogos. São Januário não abre os portões para o público há cerca de 70 dias.
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“A ausência de torcedores tem conduzido a um declínio nas receitas e na geração de renda das comunidades da Barreira do Vasco, Tuiuti e Arará, região já impactada com perdas históricas de postos de trabalhos pela retirada de indústrias e transformações no mundo do trabalho”, descreve.
O Observatório do Trabalho Carioca, da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda apurou que 92,8% das pessoas que buscam emprego na região possuem renda familiar de até 2 salários mínimos, o que enfatiza a vulnerabilidade econômica.
A secretaria afirma que aproximadamente 250 vendedores autônomos credenciados atuam dentro do estádio atendendo as arquibancadas e áreas sociais. Além de, aproximadamente, outros 300 trabalhadores informais que atuam na área externa. Segundo entrevistados, em dias de jogos, os vendedores autônomos chegam a gerar até R$8 mil de receita.
"Durante a semana dos jogos, a visita ao estádio para compra e troca de ingressos, bem como a visitação em geral, incrementa o comércio local. Além disso, a venda de artigos esportivos como camisas e bandeiras também experimenta um aumento substancial sempre que há a realização de jogos. Essa dinâmica ilustra a interconexão entre as atividades esportivas e o fomento da economia local e é relatada por todos os entrevistados", diz o estudo.
Repercussão
A Justiça interditou o Estádio São Januário após uma confusão de torcedores durante o jogo em que o time carioca foi derrotado por 1 a 0 pelo Goiás, pela 11ª rodada do Brasileirão, no dia 22 de junho. O estádio está liberado para receber jogos sem torcida.
Na época, o parecer do juiz de plantão, Marcelo Rubioli, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, causou revolta por associar a localização do estádio, na favela, com a violência e o tráfico de drogas.
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"Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio", escreveu o juiz.
Diversos torcedores, movimentos de favelas e lideranças comunitárias manifestaram repúdio às palavras do juiz contra São Januário e as favelas no entorno. Porém, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve, por dois votos a um, a proibição de público em São Januário na última quarta (30).
O Vasco da Gama ressaltou que a decisão é "seletiva e discriminatória" em manifesto divulgado nesta quinta (31) nas redes sociais. O time carioca afirmou que vai recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
"Essa proibição, embasada em alegações eivadas de preconceito, que apontam para a localização em área popular, a violência e as dificuldades de acesso como justificativas, é seletiva e discriminatória. Ignora-se, nesse contexto, que outros estádios de clubes da Série A permaneçam abertos, mesmo tendo enfrentado recentes e mais gravosos problemas de segurança, inclusive no Rio de Janeiro", diz o texto.
Edição: Clívia Mesquita