A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) realiza suas cúpulas de chefes de Estado a cada dois anos. Na última edição, em 2021, o Brasil foi representado pelo então vice-presidente Hamilton Mourão. Neste domingo (27), para a 14ª Conferência, quem estará presente é o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
A presença de Lula, além de conferir maior relevância ao evento, é um passo importante na retomada da presença brasileira no continente africano e na revalorização das parcerias com países do sul global como um todo, segundo a professora de Relações Internacionais Kamilla Raquel Rizzi, especialista em África portuguesa e CPLP.
A ida do presidente brasileiro demonstra uma "escolha diplomática cirúrgica, de revalorização das coalizões ao sul e dos Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) na política externa brasileira, e do próprio Atlântico Sul, geopoliticamente falando", afirma Rizzi, que leciona nas Universidades Federais do Pampa e de Santa Maria. Ela destaca ainda a tentativa de revitalização da Zopacas (Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul), pauta brasileira da política externa e de defesa brasileira, com a reunião ministerial que ocorreu em Cabo Verde, em abril de 2023.
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A cúpula da CPLP será realizada em São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe. As principais agendas da comunidade, que reúne Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, têm girado em torno da ampliação da cooperação nas áreas de educação, redes digitais, cidadania lusófona e internalização do acordo de mobilidade, segurança alimentar, sustentabilidade e defesa.
Os Palop são importantes para o Brasil e reconhecem no Brasil um parceiro protagonista vital, também do sul global, com processo histórico e cultural semelhante, afirma a professora. Segundo ela, existe uma "vasta gama de possibilidades adicionais, porém dependentes de viabilidade orçamentária, facilitação burocrática e continuidade".
Rizzi enxerga na política externa brasileira uma "clara prioridade" de reinserir o país no sistema mundial de forma "propositiva e protagonista, reconstruindo pontes e redes deixadas em segundo plano nos últimos seis anos". Apesar da complexidade da conjuntura internacional, repleta de instabilidades, conflitos e crises, ela acredita que o tabuleiro político atual apresenta "possibilidades reais" de o Brasil retomar seu papel de potência regional com pretensões globais. "A proximidade do Brasil com outros países do Sul Global não os torna competidores, mas parceiros de ações e visão de mundo muito apurada e crítica."
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Relações comerciais com a África
A corrente de comércio do Brasil com o continente africano cresceu 33,7% em 2022 (total de 21,3 bilhões de dólares), quando comparada a 2021 (US$ 15,9 bilhões). Ainda assim, está muito aquém de 2012, quando era de quase US$ 30 bilhões. O presidente Lula classificou como "inaceitável" essa situação durante sua passagem pela África durante esta semana. Antes de São Tomé e Príncipe, ele esteve na África do Sul para a cúpula do Brics e em Angola, onde participou de assinatura de acordos bilaterais e buscou reforçar a parceria entre os dois países.
Edição: Thalita Pires