Subiu para 22 o número de pessoas mortas pela Polícia Militar (PM) de São Paulo na Baixada Santista, no âmbito da Operação Escudo. O balanço foi atualizado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) nesta sexta-feira (25), mas os assassinatos aconteceram na quarta (23).
As vítimas foram um homem de 25 anos e um adolescente de 17. O primeiro, segundo versão do governo de São Paulo, teria sido morto após um confronto com agentes do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) no bairro da Enseada, no Guarujá (SP).
“Os agentes atuavam em uma comunidade quando identificaram traficantes armados no local. Um deles apontou a arma aos policiais, que intervieram”, informou a SSP-SP, chefiada pelo ex-policial da Rota, Guilherme Derrite. Ainda na versão dos policiais, com ele teria sido encontrada uma mochila com drogas e dinheiro.
A morte do adolescente aconteceu no período da noite, no bairro Castelo, em Santos (SP). Segundo a secretaria do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), policiais teriam flagrado dois homens roubando um carro, fugindo e batendo em um muro. Um dos rapazes “sacou a arma” e “acabou atingido”. O outro teria fugido.
:: 'A PM diz que vai matar 30', denunciam moradores do Guarujá sobre Operação Escudo ::
A SSP-SP informou que o número de pessoas presas pela Operação Escudo – que completa um mês na próxima segunda-feira (28) - chegou a 621.
Em vários aspectos, os novos assassinatos seguem o mesmo padrão dos outros que fazem da Operação Escudo a mais letal intervenção institucional da polícia paulista desde o massacre do Carandiru em 1992. Deflagrada em 27 de julho como resposta à morte de um soldado da Rota, a operação tirou a vida de homens, periféricos, em sua maioria negros.
Além disso, todas as 22 mortes foram, na explicação do governo de São Paulo, decorrentes de confronto. Mas essa versão vem sendo contestada por relatos de testemunhas, moradores e investigações da imprensa. Além disso a SSP-SP mostrou apenas o conteúdo de seis câmeras corporais de policiais ao Ministério Público.
É o caso de Vinicius de Souza Silva, de 20 anos, morto na última segunda-feira (21) no morro Santa Maria, em Santos (SP). No Boletim de Ocorrência, policiais disseram que o jovem atirou primeiro.
Moradores afirmam, no entanto, que a polícia chegou atirando contra um grupo de pessoas, que saíram correndo. Vinicius foi atingido na perna e caiu. Para a Pública, testemunhas disseram que ele foi pisoteado até morrer. Um familiar informou que viu seu corpo machucado e uma marca de bota no pescoço.
Outro caso é o de Felipe Vieira Nunes, morto aos 30 anos com sete tiros, logo que a Operação Escudo começou na Vila Baiana. Contrastando fotos de seu corpo com o laudo necroscópico, reportagem do UOL revelou que o médico legista José Eduardo Sartori omitiu as marcas de tortura que Felipe tinha no braço: queimaduras de pontas de cigarro.
Reverberando denúncias de torturas, ameaças e execuções sumárias, moradores de diferentes comunidades da região descrevem estar vivendo um cenário de terror.
Ao Brasil de Fato chegou a denúncia de que agentes da PM ameaçam matar 30 pessoas na Baixada Santista, igualando o número de mortes ao da idade do soldado da Rota assassinado no fim de julho. O ouvidor das Polícias, Cláudio Aparecido da Silva, confirmou a ameaça e informou ter o print de grupos de policiais com esse conteúdo.
O aumento do saldo de mortes da Operação Escudo vem a público um dia depois de manifestações pelo fim das chacinas policiais convocadas por 250 entidades do movimento negro acontecerem em 34 cidades do país.
Neste sábado (26), um ato em repúdio à Operação Escudo está marcada para 15h na Vila dos Pescadores de Cubatão (SP), na Baixada Santista.
Edição: Rodrigo Durão Coelho