Os encaminhamentos da 15ª Cúpula do Brics – realizada de 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, na África do Sul – consolida a nova distribuição de poder global. A avaliação é da pesquisadora Ana Tereza Marra, professora de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Em entrevista concedida para o programa Central do Brasil desta sexta-feira (25), Marra destacou o fato de a Cúpula ter reforçado o aspecto da multipolaridade. Como principal resultado do evento, os países-membros confirmaram a ampliação do bloco, com o ingresso de mais seis nações: Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.
"A Cúpula reforça a quantidade de países que queriam entrar no Brics. Ela reforça que o Brics é um grupo que tem chamado muita atenção e tem tido relevância pela possibilidade que ele traz de tentar encaminhar demandas dos países do Sul global. Essa Cúpula do Brics reforça a potência da multipolaridade, a capacidade de encaminhar demandas do sul global", considera.
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Para ela, o bloco oferece as respostas adequadas para suprir as frustrações de diversos países do sul global com os organismos internacionais mais alinhados aos Estados Unidos e à União Europeia.
"Esses países precisam de desenvolvimento, precisam se verem representados nas instituições internacionais de poder e eles não conseguem enxergar isso. Então, o Brics vem como essa alternativa", aponta.
Sobre a incorporação de novos países, Ana observou que os membros mais recentes têm uma linha de convergência com os países originais do bloco, o que garante um diálogo mais produtivo sobre os projetos em comum.
Ela destacou que, apesar do caráter heterogêneo, o grupo pode conseguir unidade e conciliar interesses de países radicalmente antiocidentais, como o Irã, com aqueles mais abertos aos acordos, como Brasil e Índia.
"A linha de convergência entre os países é a defesa da soberania e a não interferência nos assuntos internos, críticas ao FMI [Fundo Monetário Internacional] e a defesa de soluções internas, ou seja, a defesa de soluções africanas para problemas africanos, por exemplo", destacou.
A pesquisadora também avaliou que está muito distante de se concretizar a histórica demanda do Brasil por assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), mas ponderou que houve uma evolução ao conseguir com que países como China e Rússia assinassem um compromisso em torno dessa possibilidade.
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"É uma situação muito difícil. A pauta da reforma do Conselho de Segurança não está colocada. Não há discussões na ONU que dê indicativos de que essa pauta será levada adiante. O que se conseguiu agora foi a colocação na declaração do Brics de que se apoia a reforma da ONU, inclusive do Conselho de Segurança, e se apoia que Brasil, Índia e África do Sul tenham um papel mais relevante dentro da ONU", concluiu.
A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (25) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Mais sobre o Brics
Com a entrada de novos membros, Brics detém agora quase 37% do PIB global. Para Lula, agora o bloco pode negociar em condições de igualdade com grupos como o G7.
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Festival de curtas
Produções indígenas são destaque do Festival Curta Kinoforum, que acontece em São Paulo até 3 de setembro.
O programa Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. Ele é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e emissoras parceiras espalhadas pelo país.
Edição: Rodrigo Chagas