No dia 02 de agosto, os metroviários de Pernambuco entraram em greve. Após duas paralisações, a categoria decidiu interromper suas atividades por tempo indeterminado para pressionar a Companhia Brasileira de Transporte Urbano (CBTU), que gere o metrô, a cumprir o Acordo Coletivo de Trabalho, que já havia sido consensuado com os trabalhadores.
Além das questões ligadas ao salário, os metroviários pedem também mais investimentos no metrô, que tem máquinas paradas e passa por um longo processo de sucateamento, além do pedido de retirada da CBTU do Plano Nacional de Desestatização (PND).
Ao longo destes 20 dias, o acordo não avançou, mas o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) ordenou que o metrô funcionasse com 60% da capacidade em horários de pico e, nesta segunda (21), uma comitiva formada pelos deputados federais Renildo Calheiros (PCB) e Túlio Gadêlha (Sustentabilidade), os deputados estaduais João Paulo (PT) e Dani Portela (PSOL) e o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Luís Soares fez uma visita pelas instalações do metrô.
A avaliação de Humberto Costa, que é presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, é que a situação do metrô é “estarrecedora”.
Para entender melhor o que pede a categoria e quais são os problemas do metrô do Recife, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Luís Soares no programa Trilhas do Nordeste. Confira:
Brasil de Fato Pernambuco: Luiz, há alguns anos o metrô do Recife vem passando por um processo de sucateamento, né? E quais são os principais indícios desse processo?
Luiz Soares: Desde o ano passado quem vem fazendo uma luta tremenda, mesmo dentro do governo Bolsonaro, nos últimos quatro anos esse governo, ele cortou verbas constantes. Era orçado um valor e vinha 25%, 30% desse valor e isso foi provocando um sucateamento muito grande no sistema.
Hoje, com muitas dificuldades, a gente precisa recuperar o sistema e nesse processo de sucateamento, no ano passado nós estivemos com o governo Bolsonaro buscando recursos, o que não é uma ação do sindicato. Quem deveria fazer isso era a empresa, mas infelizmente a direção da empresa parece não ter compromisso com o metrô do Recife. Então nós começamos a fazer esse movimento.
E agora mais recente, no governo Lula, já tivemos uma reunião com o Ministro Jader Barbalho, onde ele coloca a situação de recuperar o sistema. Neste ano deve estar vindo uma verba de 260 milhões para a CBTU e uma parte considerável para o metrô do Recife, já na busca da recuperação desse sistema.
É claro que é muito pouco, a gente precisa de muito mais e a recuperação do sistema não vai se dar em um ou dois anos, mas entre três a sete anos, porque o sistema foi todo degradado, então a gente precisa trocar dormente, trocar rede aérea, comprar novas composições, ter uma nova subestação que possa atender todas as composições com número bem maior.
Além disso a gente precisa trocar a parte da linha que está deficitária e recuperar também algumas máquinas especiais, comprar novas, porque as máquinas que nós temos lá tem mais de 30 anos, então é um verdadeiro investimento para que a gente possa recuperar o sistema de fato, então isso leva em torno de três a sete anos. E isso tá na ordem de um 1,5 a 2 bilhões para a gente recuperar o sistema.
Os metroviários de Pernambuco entraram em greve há 20 dias. Quais são as reivindicações da categoria?
São quatro reivindicações. A principal é justamente o nosso acordo coletivo, até porque no nosso acordo a gente tenta recuperar a base salarial, que está defasada em torno de 17.7%, e corrigir também o piso salarial da categoria. A categoria apresentou a pauta de reivindicação em fevereiro e nela a gente apresentou um índice de 25% e a correção da base salarial de R$ 2.725,00, que hoje está em torno de R$ 1.900,00 A R$ 2.100,00. Então, precisa corrigir essa base salarial e algumas cláusulas importantes sociais.
Depois de três rodadas negociação, a gente fechou o acordo no dia 19 de junho com uma ata assinada pela empresa e depois de 15 dias a empresa deu para trás, não querendo aceitar mais aquele acordo. A gente vem brigando porque a proposta que foi apresentada pela empresa foi de 15% e a correção na base salarial de R$ 2.725,00 não era aquilo que tinha sido solicitado no início, mas houve uma concordância, mas ela não cumpriu.
Nós já recuamos com essa proposta para 7% e o piso salarial de R$ 2.500,00, mas até agora também não teve avanço. O que a empresa apresenta hoje seria 3,45%, abaixo do IPCA e sem correção na base salarial. Então a gente tem uma categoria especializada e bastante comprometida, então a gente quer corrigir essa base salarial e que dê um índice favorável, acima do IPCA. A empresa não se manifesta.
A gente alertou a empresa com o estado de greve, depois tivemos uma paralisação por 24 horas, 48 horas, depois por tempo indeterminado. O Ministério Público entrou em contato com a gente mediando a conversa, a gente suspendeu a greve por 72 horas, no entanto a empresa não apresentou nenhuma proposta favorável, então a gente voltou com a greve por tempo indeterminado.
Além disso, nós queremos recuperar o sistema. Queremos mais recurso para recuperar esse sistema e também dizer que é importante que tenha uma tarifa de R$ 2,00, porque os trabalhadores pagavam R$ 1,60 há quatro anos e em quatro anos a tarifa subiu para R$ 4,25 e isso diminuiu o número de pessoas dentro do metrô, porque a gente atendia 430 mil usuários por dia hoje. Estamos atendendo 170 mil.
Como você falou, a Companhia Brasileira de Transporte Urbano (CBTU) é responsável por gerir o metrô do Recife e há alguns anos os metroviários vem denunciando a ameaça de privatização da companhia. Quais os riscos que a população corre com a privatização do metrô?
Se pegar um exemplo do que aconteceu com o metrô de Belo Horizonte, que foi privatizado, a primeira coisa foi que demitiram os funcionários que tem a capacidade de fazer o trabalho. Já fica deficitário o serviço, porque você não vai ter profissionais capacitados como tinha antes.
A segunda coisa é que aumentou a passagem. Lá saiu de R$ 4,50 para R$ 5,30. Outra situação é que fecharam algumas estações. Aqui em Recife não vai ser diferente, nós vamos ter fechamento de estações, vai aumentar a passagem e o sistema vai ficar pior.
A gente vai jogar dinheiro na mão dos empresários e quem vai ser mais prejudicado nisso tudo é o conjunto da classe trabalhadora que utiliza o metrô do Recife na região metropolitana. É nessa preocupação que o sindicato está bastante atento e não quer a privatização do metrô, porque fazendo isso é como se você deixasse o metrô para algumas pessoas e não para a sociedade.
O nosso emprego é importante, mas mais prejudicada vai ser a população da região metropolitana que usa o metrô do Recife hoje. O metrô ajuda bastante porque ele não provoca engarrafamento, não tem acidente de trânsito, diminui o tempo da viagem do trabalhador e além do mais é uma energia limpa, não polui o meio ambiente e aí com a com a privatização você prejudica isso.
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Por fim, quais seriam as soluções para melhorar a situação do metrô e dos metroviários?
Primeiro, essa questão do acordo coletivo que está vigente, porque a gente tem uma mão de obra bastante capacitada. Junto a isso, nós já estamos junto ao Ministério das Cidades buscando os recursos para que a gente possa garantir a recuperação do sistema, por isso que nós lutamos por R$ 2 bilhões para recuperar ele como um todo.
O terceiro é a gente garantir o metrô estatal e Federal, porque quem tem as condições para garantir ele funcionando bem é o Governo Federal que tem aporte financeiro para isso. Por último, que a gente consiga baixar tarifas para R$ 2. Se não conseguir, queremos a manutenção da tarifa sem ter aumento por um bom tempo. Esses são nossos objetivos, eu acredito que nós vamos alcançar porque a categoria está bastante organizada.
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Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga
