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Extrair lições das lutas e reforçar a organização popular

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A greve das professoras do Sismmac gerou saldo importante de organização por núcleos de base antes da assembleia de greve - Pedro Carrano
A questão é como a esquerda se posicionará neste período, em vista do balanço da derrota anterior

Em Curitiba, tivemos uma semana atípica. Aconteceram duas greves com grande massificação, dos professores municipais de Curitiba, e do funcionalismo municipal como um todo em Araucária, ambas exigindo planos de carreiras com valorização e rechaçando cortes ou congelamentos vindos de duas prefeituras neoliberais, com retiradas de direitos acentuadas no período da pandemia de covid-19.

Na mesma semana, em Araucária, cidade industrial na região metropolitana, com a participação de quase 2100 funcionários públicos da ativa e aposentados, a greve robusta do funcionalismo retirou uma proposta de pacotaço contra os servidores e imprimiu derrota contra a gestão do conservador Hissan, 65 anos – que ficou conhecido nacionalmente por ter casado com uma adolescente de 16 anos, pelo mandonismo e pelos ataques contra os trabalhadores nesse polo industrial.

No mesmo dia 15, o movimento popular urbano, por meio da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) reuniu mais de 1000 moradores das áreas de ocupação Britanite, Pontarola, Ilha e Vila União, em convocatória da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT), ao lado de movimentos populares, do movimento estudantil e mandatos parlamentares, realizando a chamada Caminhada Popular por Moradia e Contra Despejos, em caminhada carregada de mística e envolvimento popular.

Em que pese as movimentações acontecerem na realidade específica de uma capital como Curitiba, em momento em que a classe trabalhadora, de forma geral, está em longo período de defensiva, sem responder a convocatórias no plano da agitação, são exemplos importantes de algumas tarefas necessárias para a esquerda.

A primeira delas, como se supõe neste artigo de opinião, é a presença e apoio irrestrito a mobilizações e greves da classe trabalhadora, mesmo a partir de uma pauta concreta e econômica. Toda a greve e movimentação massiva contém ensinamentos importantes. A das professoras do Sismmac, por exemplo, realizou uma metodologia muito interessante de discussão em núcleos antes do debate em assembleia geral sobre a continuidade ou não da greve. No caso da luta do FORT, a participação da população da área Britanite, de 407 famílias, em todas as tarefas do ato também mostram saídas organizativas importantes.

Outro ponto é a constatação que, em um momento em que o descenso da luta de massas, o período de início de relativa estabilidade do governo Lula, e a fragilidade das representações do sindicalismo dificultam a criação de espaços nacionais e unitários. O que deve seguir sendo um esforço das forças populares. No entanto, apenas um salto de qualidade na organização dos trabalhadores e mudanças na conjuntura permitiriam a criação de novas ferramentas organizativas. O desafio do novo governo de contribuir na recomposição de postos de trabalho é gigantesco. E uma eventual melhoria no cenário econômico já deve trazer movimentações dos trabalhadores. A questão é como a esquerda se posicionará neste período histórico, em vista do balanço da derrota estratégica do golpe de 2016.

Neste sentido, é hora de ganhar musculatura, fortalecer as lutas concretas, locais, retomar a confiança entre as organizações de esquerda e os trabalhadores, ampliar a preparação, inserção, enraizamento e organização popular, em suma. A partir do acúmulo das organizações, contribuir para que essas lutas deem um salto importante de qualidade, na ponte entre o movimento urbano e sindical, gerando também propostas de formação para esse atual momento.

Essas atuais movimentações refletem as dificuldades de avanços substanciais na atual conjuntura, no marco de um legado do neoberalismo e do neofascismo presentes na sociedade e nas diferentes esferas do Estado. Isso porque os últimos episódios da conjuntura atestam que o bolsonarismo está bastante desgastado, com a chance de seu principal líder ser preso. Porém, ainda como forte presença na sociedade, onde também precisa ser derrotado.

Em documento publicado no mês de agosto, a direção nacional da Consulta Popular elenca desafios que não se limitam a apenas uma organização, mas trata-se do desafio da vanguarda, de forma paciente, recompor sua inserção no seio do povo:

“A defensiva em que as forças populares se encontram torna difícil a conformação imediata de um polo organizado em torno de um projeto popular, mas essa situação não se manterá para sempre. (…) A luta ideológica e a reconexão com as bases populares, em especial o proletariado, seguem sendo as tarefas fundamentais que poderão nos colocar futuramente em uma posição muito mais favorável para avançar na construção do projeto popular”.


Extrair lições das lutas e reforçar a organização popular / Pedro Carrano

 

 

Edição: Ana Carolina Caldas