Do que parecia ser uma eleição até então sem imprevistos no Equador, confirma-se justamente o contrário, em país latino-americano que também apresenta um longo eixo de instabilidade em suas instituições.
O assassinato do então candidato Fernando Vilavicenccio coloca um elemento de instabilidade nas eleições previstas para o dia 20 de agosto. Além do candidato, em quinto lugar nas pesquisas, nove pessoas ficaram feridas do episódio de violência.
A ação foi reivindicada por façcão do crime organizado conhecida como “Lobos”, fato ainda não confirmado. Análises iniciais apontam o crescimento do crime organizado e da violência no país após a implantação do modelo neoliberal. Logo depois, houve o assassinato de Pedro Briones, líder do movimento político fundado por Rafael Correa, morto a tiros na província de Esmeraldas.
Vale atualizar que a advogada Luisa González lidera as pesquisas. Do mesmo grupo político de Rafael Correa, trata-se da única candidatura progressista disputando o pleito. Com chances de vencer no primeiro turno. Agora, a instabilidade pode mudar o cenário, acirrando o discurso contrário ao “correísmo” o que se torna preocupante do ponto de vista do interesse dos trabalhadores.
No Equador, a candidatura vence no primeiro turno se tiver mais de 40% dos votos, desde que consiga ficar 10% à frente do segundo colocado. O grupo político do atual presidente, o banqueiro neoliberal Guilherme Lasso, estava em desespero com a possível derrota.
A própria convocatória das eleições é expressão de um conflito. A chamada “morte cruzada” foi a operação, diante de grave crise, de denúncias de corrupção do atual governo, o que levou Lasso a dissolver o congresso equatoriano e governar por decreto até a posse do futuro governo. Com isso, a campanha eleitoral teve duração de apenas 45 dias.
Neoliberalismo e crise
Agora, diante do ato brutal de violência, Lasso decretou três dias de luto e 60 dias de estado de exceção, experiência já bastante conhecida na história política recente do Equador. Desde a pandemia de covid-19, a crise social se aprofundou no país. Antes disso, o movimento indígena havia protagonizado, em 2019, uma rebelião popular fortíssima, contra as medidas neoliberais do governo de Lasso, contra a entrega da soberania do país, do petróleo e dos demais recursos naturais.
Analistas avaliam que, após a saída e perseguição política contra Rafael Correa, e virada à direita do seu sucessor, Lenin Moreno, o país tornou-se mais violento, com aumento recorde do número de migrações, posições alinhadas a Washigton e conservadoras no plano internacional – caso da perseguição contra o ativista Julian Assange, do Wikileaks.
No curto período após a queda do correísmo e fortalecimento do neoliberalismo do país, o Equador tornou-se o país mais violento do continente. De 2022 para cá, já foram mais de 20 assassinatos de figuras políticas no país.
Com uma economia dolarizada, dependente e voltada para o extrativismo, como aponta o economista equatoriano Pablo Dávalos, “a arquitetura institucional que baliza o gasto público do país, acordada com organismos multilaterais, impede que as exportações financiem programas sociais", acentuando a crise social na linha do Equador.
Necessária vitória da candidatura progressista
Sob a presidência do direitista Guillermo Lasso, já havia sido decretado estado de sítio a 30 de setembro de 2021. A razão do então decreto presidencial havia sido a grave comoção interna gerada pelo aumento da taxa de homicídios dolosos. Ocorre, porém, que o estado de exceção mobiliza as forças armadas equatorianas no intuito de limitar ou suspender os direitos fundamentais da população.
Em resposta à crise, em 2022, Confederación de Nacionalidades Indígenas del Ecuador (Conaie), realizou diversas lutas, demonstrando força, com o acúmulo de experiência organizativa de mais de 30 anos. Com isso, o movimento indígena retomou protagonismo político no país, após um certo ocaso, devido à participação no governo do militar de Lucio Gutiérrez, derrubado em 2005, por ter traído o discurso nacionalista e se alinhado ao governo de Washington.
Agora, o desafio da esquerda é dialogar com as organizações que trazem pautas históricas, na defesa da soberania e segurança do país. No plano latino-americano, uma vitória do campo progressista é fundamental, sobretudo para reforçar o embate contra as políticas dos EUA aplicadas contra os governos de Petro, na Colômbia, e Maduro, na Venezuela. No plano continental, a pressão contra os novos governos de esquerda e as disputas nas eleições da Argentina e Guatemala reforçam a importância da vitória de Luisa González.
Em uma eleição na qual é evidente a necessidade de derrota das forças alinhadas aos EUA, é fundamental o apoio e solidariedade continental com a candidatura de Luisa González, para vitória no primeiro turno e eventual apoio no segundo turno.
*Pedro Carrano integra a direção nacional da Consulta Popular
**Soniamara Maranho integra a direção nacional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB)
***As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posição do Brasil de Fato
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lucas Botelho