A confissão do ex-policial militar Élcio Queiroz sobre a sua participação no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a confirmação de que ex-PM Ronnie Lessa puxou o gatilho da arma responsável pelas execuções, além dos novos personagens e elementos da dinâmica do crime, colocam a investigação cada vez mais próxima de responder a pergunta que ressoa ao longo de cinco anos: “quem mandou matar Marielle?”
Para a mãe da ex-vereadora, a advogada Marinete Silva, que acompanha desde o início o processo, a expectativa é que o julgamento dos acusados e o nome de quem deu a ordem para a execução de sua filha venham à tona ainda neste ano.
“Eu acho que quem tinha dúvida em algum momento em relação aquilo tudo agora não tem mais. É lógico que tudo o que acontece pra gente chegar a essa barbárie que fizeram com a minha filha é sim de grande importância. A expectativa que a gente tem é que chegue aos mandantes e que esse júri aconteça este ano para que tenhamos uma condenação merecida pelo tamanho que foi essa barbaridade toda, porque tem um mentor para isso tudo”, disse Marinete ao Brasil de Fato, que acrescentou:
“A gente sempre confiou muito na polícia nessa busca que vem desde a DH [Delegacia de Homicídios] até onde chega agora com todo esse projeto de renovação dentro do governo federal. Temos confiança. Se eu não tivesse confiança na minha fé, eu não estaria hoje ainda lutando para que a gente saiba quem e o porquê de mandarem matar Marielle e Anderson”.
Legado e novas sementes
Desde a execução, a família da ex-vereadora, além de lutar para obter justiça, também tem se dedicado a manter viva a memória e o legado de Marielle Franco, que atuou em defesa dos direitos humanos, das mulheres negras, das populações periférica e LGBTQIA+ na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2020, dois anos após o assassinato da ativista, a família de Marielle fundou o Instituto Marielle Franco para traçar estratégias contra a violência política e sistematizar de forma prática o legado da ex-vereadora.
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Com uma forte incidência política nacional, o instituto teve um papel de destaque nas eleições de 2022 ao lançar a Agenda Marielle Franco, que foi um conjunto de práticas e compromissos políticos antirracistas, feministas, LGBTQIA+ e populares direcionado para as candidaturas. Ao todo, foram 44 eleitas de quatro regiões do país e de sete estados, além de 86 suplentes das 145 candidaturas comprometidas com a agenda para o Congresso e as Assembleias Legislativas.
A ação mais recente ocorreu no último dia 27 de julho em memória ao aniversário de Marielle, que completaria 44 anos. O instituto lançou, no Centro de Artes da Maré (CAM), um livro com a fotobiografia da ativista e a primeira exposição do acervo da organização em memória à ex-vereadora.
“A gente estava devendo isso, né? Um evento maior na [Conjunto de Favelas da Maré] Maré para resgatar essa memória daquele território onde Marielle nasceu e se criou e Anne [Anielle Franco] também. Marielle vive em cada um da gente, principalmente na nossa família”, comentou Marinete.
O livro, lançado pela Editora Azougue Editorial, é organizado pelo instituto e pela vereadora e viúva da ativista, Monica Benício (Psol). A publicação já está disponível para a venda e reúne cerca de 80 fotos, além de depoimentos, textos e entrevistas contando a trajetória de Marielle.
Edição: Mariana Pitasse