O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o país fez uma proposta para entrar no Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Durante seu programa de televisão semanal Con Maduro Más, exibido nesta segunda-feira (31) pela emissora estatal, o presidente comentava a expansão do bloco defendida pela China quando disse que Caracas havia feito "sua proposta".
"Agora que o Brics está propondo uma ampliação, dando participação a novos países, a Venezuela fez sua proposta de entrada no Brics. Esperamos que seja avaliada positivamente por China, Brasil, Índia, África do Sul e Rússia e esperamos uma resposta positiva para que a Venezuela, mais cedo do que tarde, entre na dinâmica dos Brics para aprender, apoiar e ajudar", disse.
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O mandatário ainda elogiou o papel do bloco e afirmou que "o papel do Brics é muito importante na construção de um mundo novo, é a força dinamizadora do surgimento do mundo multipolar".
Apesar das declarações de Maduro, não ficou claro se o país fez uma solicitação formal de ingresso ao bloco. Isso porque nem a Presidência nem a Chancelaria venezuelana se pronunciaram sobre o tema. O Brics e seus membros também não confirmaram o pedido venezuelano.
Mesmo com um pedido formal ou apenas com uma manifestação de interesse, há uma longa fila de espera para ingressar no bloco. Em julho, o principal diplomata sul-africano para as relações do país com o Brics, Anil Sooklal, confirmou que mais de 40 países manifestaram interesse de adesão.
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Segundo ele, 22 nações fizeram solicitações formais e "um número igual de países manifestaram informalmente interesse em se tornar membros do Brics".
Em junho, em entrevista ao Brasil de Fato, o economista Paulo Nogueira Batista Jr, ex-vice-presidente do Banco do Brics, disse que a entrada de novos países como a Venezuela seria um processo "difícil e demorado", o que faria com que fosse mais vantajoso para Caracas se concentrar em voltar para blocos regionais como a Unasul e o Mercosul.
Nova diplomacia venezuelana
Essa não é a primeira vez que Maduro pede para ingressar no bloco. Em maio, quando visitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, o venezuelano disse que tinha interesse em levar o país ao Brics para "acompanhar a construção da arquitetura desse novo mundo que está nascendo".
Lula se mostrou favorável, mas disse que a proposta deveria ser discutida com os outros membros na próxima reunião que deve ocorrer entre os dia 22 e 24 de agosto, em Joanesburgo, na África do Sul.
A adesão de novos membros deve ser um dos principais temas a ser discutido na cúpula. Rússia e China vêm defendendo publicamente a proposta de ampliação do bloco, que possui diversos interessados como Argentina, Irã, Cuba, Arábia Saudita, Egito, Indonésia e outros.
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No caso venezuelano, a possibilidade de entrada no bloco marcaria mais um passo na nova fase diplomática que o país vive desde o final do ano passado, quando voltou a ter presença em cúpulas multilaterais, após anos de isolamento imposto pelos EUA e aliados.
O plano dos EUA de "pressão máxima" para tentar derrubar o governo de Nicolás Maduro e reconhecer o "governo interino" do ex-deputado Juan Guaidó retirou o país de fóruns internacionais e isolou Caracas na América do Sul. Fracassado a estratégia de Donald Trump e após o retorno de governos progressistas na região, a Venezuela pôde voltar a espaços diplomáticos e reabrir diálogos com países vizinhos.
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A ida de Maduro à COP 27, no Egito, em novembro do ano passado, a participação do presidente na reunião dos países sul-americanos, em Brasília, e a presença da vice-presidente, Delcy Rodríguez, na cúpula da Celac, em Bruxelas, são missões oficiais consideradas por Caracas como vitórias diplomáticas.
Além disso, há um interesse econômico do país em se tornar parte do Brics. Acesso a novos mercados, parceiros comerciais, possibilidades de crédito e escapar da esfera do dólar são algumas vantagens que a Venezuela encontraria, principalmente para diminuir os efeitos das sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia, que limitam ostensivamente o comércio exterior venezuelano.
Edição: Rodrigo Durão Coelho