O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (2) reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual. Com a decisão, a chamada taxa Selic foi rebaixada para 13,25% ao ano – mesmo nível de agosto de 2022.
O corte definido pelo Copom foi o primeiro anunciado em três anos. Em agosto de 2020, durante a pandemia e a crise econômica causada por ela, o BC reduziu a Selic de 2,25% ao ano para 2% ao ano.
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Depois disso, em quatro reuniões, até janeiro de 2021, o Copom manteve a Selic em 2%.
A partir daí, iniciou uma sequência de 12 elevações seguidas da Selic – a mais longa em 23 anos. De março de 2021 a agosto de 2022, a taxa básica de juros foi multiplicada por quase sete. Passou de 2% para 13,75%.
O aumento, na época, foi considerado necessário pelo Copom para conter a inflação, que crescia também por consequência da pandemia. Em abril de 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a acumular 12,1% em 12 meses.
Depois, porém, a índice começou a baixar. Neste junho, ele caiu a 3,16%, e, em julho, deve ser ainda menor, segundo prévia divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Até junho, entretanto, o Copom não via espaço para redução da Selic. Tanto foi assim que a manteve em 13,75% ao ano por sete reuniões consecutivas.
Já desta vez, o comitê considerou a queda da inflação. Por isso, contrariou a opinião da maioria dos economistas ligados a bancos e cortou a Selic em 0,5 ponto, e não só 0,25. "O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário", informou o BC.
A decisão foi dividida. Quatro membro do Copom defendiam uma queda menor, de 0,25. Cinco deles, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, votaram pelo corte de 0,50 ponto.
Críticas e pressão
Campos Neto vinha sendo publicamente criticado por governo, empresários e sociedade por conta da Selic. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou da gestão de Campos Neto no BC por mais de uma vez.
Ele e boa parte da diretoria do BC que opina sobre a taxa básica de juro foi nomeada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Bolsonaro também sancionou a lei que concedeu ao BC autonomia ante ao governo. Por conta disso, Campos Neto e seus colegas diretores não puderam ser trocados após a posse de Lula.
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Lula foi o primeiro presidente a governar o país tendo que adaptar-se às decisões do Copom cujos nove membros não foram indicados por ele.
Na reunião encerrada nesta quarta, contudo, o economista Gabriel Muricca Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, e o advogado Ailton de Aquino, servidor do BC, opinaram sobre a Selic –a qual acabou caindo. Eles foram indicados por Lula, sabatinados pelo Senado e assumiram em julho a diretoria de Política Monetária e de Fiscalização do BC, respectivamente.
Os dois indicados por Lula votaram por um corte maior na Selic.
Edição: Thalita Pires