A cidade do Rio de Janeiro ganhou um novo espaço cultural: a Casa Escrevivência. O projeto, da escritora e linguista Conceição Evaristo, com sede ainda temporária, fica no beco João Inácio, no bairro da Saúde, local também conhecido como “Pequena África”, na região central da cidade. A inauguração contou com uma noite de autógrafos da escritora na última quinta-feira (20).
O objetivo da Casa é manter o acervo artístico e livros da Conceição e também ser um local para pesquisa sobre a literatura negra. Conceição conta que a abertura da sede temporária é o início da realização de um sonho.
“Livro parado para mim não tem sentido, livro parado não tem vida, ele está sujeito a se perder com o tempo e o que dá sentido ao livro, o que materializa o que está escrito no livro é justamente quando esse livro é usado, quando esse texto é lido”, diz.
Durante a noite de inauguração o beco João Inácio, assim como todo o Largo da Prainha, receberam uma multidão de fãs que queriam além de seus livros autografados e fotos com a escritora, conhecer o novo espaço. Um exemplo é Julya Sampaio, que é estudante de literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Ter a Conceição no lugar além de mulher preta, no lugar da literatura e da literatura de mulher preta é de uma maravilhosidade imensa. Olhar para as obras da Conceição e ver nossa representação, nossa história, nossa luta é maravilhoso”, conta.
Já Aryelle Peres, também estudante da UFRJ, acredita que é um privilégio ter um espaço como a Casa Escrevivência. “Eu, como mulher preta não conhecia a Conceição Evaristo, conheci tem uns 4 anos na rua, a gente se esbarrou e a gente tem todo o contato até hoje e eu acho muito importante toda essa representação que ela traz”, explica.
Conceição Evaristo tem sete livros publicados, cinco deles traduzidos para o inglês, francês, espanhol e árabe. A escritora é uma das maiores influências literárias negras no Brasil e no mundo.
“Ter esse acervo cujo conteúdo tem essa referência africana, afro diaspórica, além de ser um local de preservação de memória, é um local também que oferece essa oportunidade para pesquisadores”, conta Evaristo.
Além de pesquisadores, a escritora acredita que a Casa Escrevivência é um espaço para acolher as pessoas, acima de tudo, mas para isso, ainda é preciso conseguir um local maior para a sede.
“Agora nós estamos num momento de implantação, momento de jogar esse projeto na rua e brevemente nós vamos partir para apresentar propostas para órgãos fomentadores de cultura porque nós queremos comprar uma casa, precisamos de uma casa com sala, quartos, cozinha. Um dos nossos projetos é também acolher pesquisadores que venham de fora e possam dormir na própria casa”, explica.
Conceição anseia que a Casa Escrevivência seja um espaço para formação de leitores e referência para todas as mulheres negras que nela se inspiram.
“Vai ser um polo que vai incentivar a pesquisa, e vai ser um polo que vai ter esse material que nós pretendemos catalogar, ter cuidados para preservação do livro e é um centro de memória, a começar pelo próprio espaço físico de estar situada aqui na Pequena África e também porque eu acho que forma uma rede porque aqui tem o Muhcab, tem o museu dos Pretos Novos. A Casa fortalece e semantiza esse lugar de memória negra”, finaliza Conceição.
A Casa Escrevivência ainda não está recebendo visitação do público, mas tem organizado diversos eventos. Para saber a programação é só acompanhar as redes sociais do espaço.
Edição: Mariana Pitasse