O comunicado publicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre os perigos dos adoçantes artificiais confirmou temores que especialistas já vinham compartilhando.
De fato, essas substâncias são possivelmente cancerígenas. A avaliação foi realizada pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer e pelo Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização para Agricultura e Alimentação, dois grupos que fazem parte da OMS.
Conhecidos como edulcorantes, os adoçantes artificiais surgiram com a promessa de serem uma alternativa saudável para substituir o açúcar. No entanto, estudos vêm mostrando justamente o contrário.
:: OMS classifica o adoçante aspartame como provável causador de câncer ::
O aspartame, presente principalmente em refrigerantes e sucos sem açúcar, é o edulcorante mais conhecido.
“Ele [aspartame] é um aditivo alimentar artificial adicionado aos alimentos, mas sem a função de nutrir, e sim de alterar características do alimentos. Ele proporciona um sabor doce aos alimentos”, explica a pesquisadora Luisa Gazola, que atua no Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP (Universidade de São Paulo), em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (18).
:: Confira a entrevista completa no reprodutor de áudio logo abaixo do título da reportagem ::
A publicação da OMS foi referendada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer) que, em nota, corroborou com o aviso da Organização afirmando que o consumo do aspartame deve, sim, ser evitado pela população.
Passou ileso
Apesar deste risco cada vez mais evidente, o aspartame, assim como todos edulcorantes, ficaram de fora das regras mais rígidas da nova norma de rotulagem de alimentos, aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em vigor desde o ano passado.
As mudanças, pensadas com foco na saúde pública da população, alteraram, principalmente, a parte frontal dos produtos. Agora, aqueles que apresentam alto teor de açúcar adicionado, sódio ou gordura saturada devem ter uma mensagem de alerta.
:: Entenda as mudanças no rótulo dos alimentos, que passaram a vigorar nesta semana ::
Mas os edulcorantes não precisam receber este alerta. O consumidor pode ver a presença da substância na tabela nutricional do produto, porém vai precisar procurar na embalagem.
“A ideia da nova lei de rotulagem era, justamente, servir de alerta e amparo para população ter mais fácil acesso as informações importantes sobre as substâncias presentes no produto”, explica Gazola.
As mudanças já estão em vigor, então, gradativamente, todos os produtos alimentícios vão aderir à norma.
Gazola explica que, com a nova lei da rotulagem, existe uma tendência das industrias alterarem as fórmulas dos produtos para, por exemplo, reduzir o açúcar em um nível que o item não precise receber o alerta na parte frontal da embalagem. Mas, para não alterar o sabor do produto, uma alternativa vai adicionar aspartame.
E esta substituição poderá passar despercebida pelos consumidores, justamente, por conta da liberação que os edulcorantes receberam na nova legislação.
Nível seguro?
Ao contrário do Inca, a Anvisa não foi tão enfática na advertência ao aspartame. A Agência publicou que “até o momento, não há alteração do perfil de segurança para o consumo do aspartame, de modo que a Anvisa seguirá acompanhando atentamente os avanços da ciência a respeito do tema”.
A Anvisa lembrou que os estudos da OMS consideraram aceitável o limite atual de ingestão diária (40 mg/kg de peso corporal).
No entanto, para a pesquisadora do Nupens, essa não é uma base segura de comparação.
“Esses 40 mg podem representar de 9 a 14 latas de refrigerante. Mas é importante lembrar que o aspartame não está apenas no refrigerante, diversos outros produtos têm essa substância e é mais dificil de medir, de fazer essa soma de segurança,então é preocupante essa comparação.”
“A gente sabe também que tem pessoas que são mais vulneráveis a determinadas substâncias, então essa comparação por peso é relativa”, finaliza.
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Edição: Lucas Weber
