A médica sanitarista Adele Benzaken e o infectologista Marcus Vinícius Lacerda receberam de volta as medalhas da Ordem Nacional do Mérito Científico, que haviam sido revogadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A honraria foi entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (12).
Benzaken era diretora do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde e foi demitida em 2019, primeiro ano da gestão de extrema direita. O desligamento dela foi decidido após a publicação de uma cartilha sobre prevenção de doenças destinada a homens trans. Marcus Vinícius Lacerda assinou um estudo que comprovou a ineficácia da cloroquina no tratamento contra a Covid-19, em 2020.
A pesquisadora e o pesquisador estavam na lista de personalidades que seriam homenageadas em 2021. Dias após a publicação da relação, no entanto, Bolsonaro determinou a exclusão dos dois nomes. Em protesto, mais de 20 cientistas que também receberam a condecoração renunciaram à medalha.
Na ocasião o ex-presidente condecorou a si mesmo e ao ex-ministro da Economia Paulo Guedes com a honraria, criada para reconhecer personalidades brasileiras e estrangeiras por contribuições para o desenvolvimento da ciência no Brasil.
Durante a solenidade que reverteu a decisão de Bolsonaro, o presidente Lula afirmou que o simbolismo do evento vai além de um ato formal.
“Estamos reunidos aqui hoje para dizermos, em alto e bom som: chega de obscurantismo. Basta de negacionismo. Chega de jogar cientistas às fogueiras – não mais aquelas da Idade Média, mas as que a mentira e o discurso de ódio acenderam na Internet e em grupos radicais de nossa sociedade."
"O Brasil não merece mais ter suas instituições aviltadas, a ponto de tanta gente séria da ciência devolver a Ordem do Mérito Científico. Gente que, felizmente, aceitou receber a condecoração de novo hoje. E aceitou porque sabe que a ciência voltou.”
Além da entrega das medalhas, a solenidade marcou a retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT). O órgão havia sido extinto por Bolsonaro em 2019. Agora. O CCT volta reformulado para garantir mais espaço a representantes do governo e da sociedade civil.
O órgão será composto por 34 membros, entre representantes do poder público, da população e dos setores da educação, pesquisa, ciência e tecnologia. A presidência será exercida por Lula e a vice-presidência pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho