O deputado federal Eduardo Bolsonaro declarou recentemente em um ato pró-armas em Brasília:
“professores doutrinadores são piores que traficantes de drogas”
O que este deputado chama de professores “doutrinadores”, podemos imaginar, são os que ensinam história, filosofia, sociologia, ciências naturais, segundo as regras da ciência e não a partir de dogmas religiosos.
Se formos um pouco mais fundo na interpretação do texto verbalizado pelo bolsonarista, veremos que além de hostilizar os professores ele aconselha às famílias ao seguinte: em tendo que escolher por quem seus filhos serão influenciados, educadores ou traficantes, prefiram esses últimos.
Não se trata - como alguns pensam - de um discurso inapropriado ou fora de contexto. Ao contrário, é uma fala que se encaixa muito bem em um palanque pró venda de armas para alimentar milícias privadas criminosas.
Seria mera coincidência que, neste instante, setores do tráfico no Rio de Janeiro estejam fundando igrejas neopentecostais buscando a proteção divina das isenções fiscais para a lavagem de dinheiro e o amparo em fundamentalismos religiosos com a finalidade de acolher jovens desalentados em suas facções?
A CNTE, prontamente fez uma nota repudiando as declarações de Eduardo Bolsonaro pedindo que ele seja cassado em seu mandato. Deputados do PT e do PSOL exigem também sua cassação.
Requerer a cassação de Eduardo Bolsonaro é o suficiente ou o buraco é mais embaixo?
Cavouquemos melhor a realidade. A destruição da Escola Pública que o Novo Ensino Médio (NEM) - criado por Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro - proporciona, deslocando a ciência “doutrinadora” dos currículos, ampliando a segregação social de acesso à universidade pública, preparando os jovens das famílias trabalhadoras para o “empreendedorismo da miséria” e a precarização do trabalho, criando as plataformas pasteurizadas que dispensam os professores em sala de aula e enriquecem as fundações privadas, não parece uma realidade bastante aproximada da pregação reacionária e criminosa de Eduardo Bolsonaro?
Pois é, muitas vezes o que se chama de discurso de ódio é simplesmente a expressão verbal mais contundente e sem filtro de um programa econômico e político relacionado com os interesses de uma classe dominante capitalista que não pode senão oferecer regressão civilizatória e barbárie em nome de seus enormes lucros.
O discurso asqueroso de Eduardo de Bolsonaro, temos que ter consciência disso, só tenta puxar a sardinha para o seu ramo de negócios em face da destruição da escola pública, assim como outros setores empresariais que arquitetaram e atuam pelo NEM o fazem de maneira mais polida e cercada de um linguajar menos rudimentar, contudo mais enganador.
A campanha pela cassação de Eduardo Bolsonaro deve ser acompanhada da intensificação da luta para que Lula revogue o Novo Ensino Médio, restituindo assim a dignidade e o lugar social devido ao professor (a) doutrinador (a) de ciência e de cultura nas salas de aula.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano