Minhas primeiras atividades na luta pela terra foram aos 14 anos, no Paraná. Trabalhava como boia fria e vivia na pele as contradições do latifúndio. Anos depois, em 1996, a militância no MST me levou a Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. E ano passado fui eleita a primeira deputada sem terra do Rio de Janeiro, estado com a segunda maior região metropolitana do Brasil, uma área rural rica e diversa, mas bastante invisibilizada.
Trago para o parlamento minha luta contra o agronegócio.
O agro se caracteriza atualmente pela presença de empresas transnacionais que disputam o campo e as pessoas que ali vivem e trabalham. Com a crescente mercantilização da agricultura, surgiu a necessidade dos camponeses se organizarem. Movimentos populares do campo têm buscado resistir a este modelo construindo outras formas de desenvolvimento.
No Brasil, a “coincidência” do crescimento pujante do agronegócio e, ao mesmo tempo, da fome, pintou em tela o que sempre soubemos: é o povo do campo quem coloca alimentos na mesa. Se por um lado, tivemos nos últimos anos cada dia mais a população passando fome, do outro tivemos o agronegócio batendo recordes de lucro. Estamos deixando de produzir aipim, arroz e feijão para avançar nas monoculturas de soja, milho e cana de açúcar para a exportação.
O agronegócio é sinônimo, também, do despovoamento como resultado do uso de agrotóxicos e de uma forte mecanização, que prescinde da força de trabalho camponesa, expulsando-a das áreas rurais. Gera fome, miséria e doença. O agronegócio quer aumentar a produtividade e, para isso, sua meta é o aumento do uso de agrotóxico e transgenia.
Os transgênicos e os agrotóxicos trouxeram um intenso e complexo debate sobre o papel da ciência, do saber e sua relação com o os destinos da humanidade. Com isso, a disputa ideológica pelo mercado consumidor se tornou estratégica sobre o campo da política. A imagem construída do agronegócio, autointitulado como pop, impõe aos movimentos sociais uma estratégia para ampliar o debate sobre a qualidade dos alimentos.
Para nós, do MST, pop é a luta pela terra.
Nossos objetivos, além da reforma agrária baseada na Constituição, incluem fortalecer a agroecologia e avançar na luta contra os agrotóxicos e em defesa da natureza. Lamentavelmente, o agro desconsidera a cultura do campo como natureza viva ao reproduzir a lógica mercadológica no meio ambiente e em toda a cadeia de produção alimentar, deixando a população à mercê da fome e da subnutrição.
Defendemos a reforma agrária popular por ser um conjunto de políticas capazes de produzir alimentos, gerar desenvolvimento, renda, e de promover a justiça social nas áreas rurais do nosso país. Nossa pauta precisa ser baseada na fartura, da vida, da comida, das alegrias e da paz.
*Marina do MST é deputada estadual do Rio de Janeiro.
Edição: Mariana Pitasse