Você não foi o único que deu um pulo da cadeira quando ouviu os nomes de Bárbara e Mônica Hickmann
*Luiz Ferreira
Antes de mais nada, toda a repercussão em cima da convocação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo Feminina não deixa de ser uma ótima notícia para todos aqueles que defendem e amam o futebol praticado por mulheres. Acredito que nunca tivemos tantas menções nas redes sociais e tanta atenção por parte da imprensa esportiva como vimos nesta terça-feira (27).
Ao mesmo tempo, tivemos sim um avanço enorme na forma como a Seleção Feminina joga em termos táticos e no entendimento do jogo dentro de campo. Jogadoras como Ary Borges, Kerolin, Bruninha, Duda Sampaio, Geyse e outras estão chegando para assumir o protagonismo que um dia foi de Marta, Cristiane, Formiga e outras lendas do futebol feminino brasileiro.
No entanto, a lista divulgada por Pia Sundhage nesta terça-feira (27), na sede da CBF, deixou todos nós com um misto de frustração e dúvidas sobre o que virá pela frente por causa da presença de duas jogadoras. Antes de entrarmos em mais detalhes, vamos conferir as convocadas para o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia.
GOLEIRAS:
Bárbara (Flamengo), Camila Rodrigues (Santos) e Leticia Izidoro “Lelê” (Corinthians)
DEFENSORAS:
Antonia (Levante UD/ESP), Bruninha (NJ/NY Gotham/EUA), Kathellen (Real Madrid/ESP), Lauren (Madrid CFF/ESP), Mônica Hickmann (Madrid CFF/ESP), Rafaelle (sem clube) e Tamires (Corinthians)
MEIO-CAMPISTAS:
Adriana (Orlando Pride/EUA), Ary Borges (Racing Louisville/EUA), Ana Vitória (sem clube), Duda Sampaio (Corinthians), Kerolin (North Carolina Courage/EUA) e Luana (Corinthians)
ATACANTES:
Andressa Alves (sem clube), Bia Zaneratto (Palmeiras), Debinha (Kansas City/EUA), Gabi Nunes (sem clube), Geyse (Barcelona/ESP), Marta (Orlando Pride/EUA) e Nycole Raysla (Benfica/POR)
SUPLENTES:
Tainara (Bayern de Munique/ALE), Angelina (OL Reign/EUA) e Alines Gomes (Ferroviária)
Escolhas
Você não foi o único que deu um pulo da cadeira quando ouviu os nomes de Bárbara e Mônica Hickmann serem pronunciados por Pia Sundhage. E também não foi o único que colocou a mão na cabeça quando ouviu as justificativas da treinadora sueca sobre a presença das duas entre as 23 convocadas para a Copa do Mundo Feminina.
A amiga Taís Viviane (jornalista e comentarista do excelente Planeta Futebol Feminino) definiu bem essa situação quando afirmou que Pia Sundhage escolheu o caminho mais fácil e, por conseguinte, o mais frustrante diante das lesões de Tainara (zagueira que seria titular ao lado de Rafaelle) e Lorena (excelente goleira que se recupera de lesão séria no joelho esquerdo).
Pia poderia ter seguido o caminho que traçou desde o início deste ciclo com a renovação de todos os setores da Seleção Feminina e do aproveitamento de jogadoras que estiveram presentes em boa parte dos amistosos e torneios disputados pela equipe nos últimos meses.
No entanto, a impressão que fica é a de que a treinadora sueca não teve convicção nas próprias escolhas diante de 11 estreantes em Copas do Mundo e optou por nomes que sequer eram ventilados nas poucas mesas de debate sobre futebol feminino que existem na grande imprensa esportiva. Por isso, não deixa de ser um choque grande.
Eu fico imaginando como está a cabeça da goleira Luciana, da Ferroviária. Ela participou de boa parte do ciclo, é amada pelas companheiras de equipe e sempre se colocou à disposição da comissão técnica para ajudar no que fosse preciso. Mesmo do banco de reservas. É tão experiente quanto Bárbara e vive momento muito melhor nas Guerreiras Grenás. Lembrem-se também de que Luciana estava na lista de convocadas para a Data FIFA de abril (nos jogos contra Inglaterra e Alemanha) e que a goleira do Flamengo não era chamada desde as Olimpíadas de Tóquio.
Sobre Mônica Hickmann, ela esteve presente apenas nas três primeiras convocações de Pia Sundhage e “ressurgiu do nada” no período de treinamentos da Seleção Brasileira na Granja Comary, em Teresópolis. A treinadora sueca poderia ter optado por Yasmim (do Corinthians) que fez boa temporada se revezando entre a lateral e a zaga. Assim como Fê Palermo (do São Paulo). Ou até mesmo optado por Tarciane, jovem zagueira que vive momento irregular, mas que foi destaque do Brasil na Copa do Mundo Sub-20 ano passado na Costa Rica.
É por isso que a impressão deste colunista é a de que Pia Sundhage não foi fiel às suas próprias convicções nessa convocação.
Faltou um pouco de coragem e até de bom senso na hora de definir as substitutas de Tainara e Lorena na lista final. Tudo isso faz com que os mais diferentes tipos de especulações sobre “acertos” aqui e ali nos bastidores sejam levantadas nas redes sociais. O que é uma pena diante do bom trabalho feito pela sueca e pelo crescimento técnico e tático da Seleção Feminina nos últimos meses.
Antes que me perguntem, não há o que se discutir sobre Cristiane. Já se sabia que ela estaria fora da Copa do Mundo. No entanto, a resposta atravessada de Pia na coletiva sobre a ausência da atacante do Santos deixou bem claro que alguma coisa aconteceu nos bastidores. É algo que deve ser melhor apurado.
Polêmicas e incoerências à parte, a lista divulgada nesta terça-feira (27) é muito boa sim. Não há o que falar das demais 21 jogadoras que devem estar na Austrália e na Nova Zelândia no mês que vem. Todas elas mostraram seu valor, entregaram bom desempenho dentro de campo e assimilaram bem os conceitos de Pia Sundhage sobre o trabalho sem bola, intensidade e concentração alta diante de adversários da primeira prateleira. As atuações contra a Inglaterra (na Finalíssima) e Alemanha falam por si só. Temos um grupo forte e fechado. Essa talvez seja a grande notícia dessa convocação final para a Copa do Mundo.
Não é por acaso que vemos tantas jogadoras utilizadas por Pia nesse ciclo se transferindo para o futebol do exterior.
Adriana, Kerolin, Ary Borges e Bruninha fazem sucesso nos Estados Unidos e já começam a despertar o interesse de grandes clubes europeus. Além disso, foi muito bom ver Luana recuperando o bom futebol depois de lesão grave no joelho e a jovem Aline Gomes despontando na Ferroviária e nas seleções de base.
Ao contrário do que diz a CBF, este colunista mantém a projeção mais “modesta” para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo. O chaveamento cruel colocou o Brasil numa tremenda roubada com jogos contra França na fase de grupos e (possivelmente) Alemanha nas oitavas. Passar da primeira fase bem é fundamental para que ganhar confiança e pensar mais alto.
E além do mais, esse grupo já mostrou boa capacidade de superação contra adversários complicados. Não é nenhum absurdo pensar numa boa campanha nessa Copa do Mundo Feminina. Entre novidades e incoerências, o grupo que temos é esse. Vamos torcer. É o que nos resta no final de tudo.
*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Mariana Pitasse