Extrativismo

Repressão em província rica em lítio na Argentina já deixou 170 feridos e 68 presos

Governo mudou regras da Constituição local para dificultar manifestações

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Relatos acusam polícia de atirar balas de borracha contra o rosto de manifestantes - Edgardo Varela / Telam / AFP

A crise em Jujuy, no norte da Argentina, continua. Os protestos desencadeados pela reforma da Constituição da província já deixaram um saldo de mais de uma centena de feridos e a organização sindical Intergremial de Jujuy convocou uma greve para esta quarta-feira (21), com o apelo para que a mobilização se espalhe para o restante do país.

"Temos cerca de 170 feridos pelas manifestações e confrontos, um deles com gravidade", disse Pablo Jure, diretor do serviço de emergência, em entrevista para a Telam. A agência de comunicação também colheu relatos de que as forças de segurança estão disparando tiros de balas de borracha na direção do rosto dos manifestantes.

Advogados que acompanham os detidos afirmam que as acusações variam entre "atentado e resistência à autoridade", "danos a propriedade para uso público" e "tentativa de ataque e resistência à autoridade", por ordem do promotor Walter Rondón.

As alterações na Constituição são capitaneadas pelo governador Gerardo Morales — e aprovadas por ampla maioria no legislativo local. O novo texto da carta magna da província retirou o direito à manifestação "sem aviso prévio" e adicionou a necessidade de uma "paz social". Organizações de direitos humanos afirmam que as alterações afetam a liberdade de expressão.

Raúl Zaffaroni, ex-ministro da Supremo da Argentina, afirmou que o objetivo da reforma constitucional é garantir "a entrega dos recursos naturais". Em sua coluna na rádio AM750, Zaffaroni apontou para o "racismo" do caso e relembrou que membros da própria coalizão do presidente Alberto Fernández (Juntos pela Pátria) votaram pela reforma de Morales, que faz parte da coalizão do ex-presidente Mauricio Macri.

Informações contidas em artigo publicado pela Universidad Nacional de San Martín apontam que a Argentina concentra 8% da produção global de lítio no salar de Olaroz-Cauchari, em Jujuy. Três países da América do Sul têm as maiores reservas mundiais do mineral também conhecido como "ouro branco", e são conhecidos como "triângulo do lítio". São eles: Argentina, Chile e Bolívia.

* Com informações de Telam e Pagina 12.

Edição: Nicolau Soares