De 04 a 14 de junho, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), recebeu o Companhia Infantil de Teatro La Colmenita, direto de Cuba, sob a direção do membro fundador Carlos Alberto Cremata Malberti (Tin) e de mais três trabalhadoras cubanas da companhia. O intercâmbio teve como objetivo prioritário conhecer a metodologia e filosofia de trabalho de "Las Colmenitas”, projeto que é mundialmente reconhecido pela sua eficácia na formação de valores humanistas, com reconhecimento internacional pela UNICEF.
Além disso, apresentar as experiências do MST em torno da questão da cultura na infância, incluindo aspectos da luta política, da comunidade, dos territórios e da reforma agrária popular e compartilhar com os educadores o trabalho com a arte nas escolas e prepará-los para que assumam o papel de multiplicadores do projeto La Colmenita. A atividade aconteceu na Escola de Ensino Médio do Campo Irmã Tereza, e no Assentamento Caldeirão/Tanquinho, no município de Quixeramobim, na região do Sertão Central do Ceará.
Tin Cremata, fundador e diretor do Movimento Internacional La Colmenita, compartilhou um pouco do histórico da Companhia. “O movimento La Colmenita surgiu em 14 de fevereiro de 1990, iniciamos com um grupo pequeno de 20 crianças e logo chegou a 100 crianças, e se formou outras Colmenitas em outros municípios de Havana, em Cuba. E se espalhou por toda Cuba e em seguida em outros países, primeiro Espanha, depois México, Colômbia, Panamá, Nicaragua, Canadá, República de Salvador, Argentina e Venezuela”.
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De acordo com Tin Cremata, “o objetivo fundamental de La Colmenita é utilizar a arte, fundamentalmente a arte teatral como pretexto para formar valores em todos, nas crianças e nos adultos. Compartilhamos a formação de valores humanos, por isso o objetivo fundamental das La Colmenitas não é formar artistas, como fazem bem as escolas de arte que há em Cuba”.
Sobre as impressões do intercâmbio das La Colmenita no Brasil Tin destaca: “Primeiro não passa em toda parte o que vimos aqui, nos apaixonamos profundamente pelas crianças. Todas as crianças do mundo são iguais, são igualmente adoráveis, criativas, porém, no caso especifico do Brasil, nos apaixonamos profundamente também pelos companheiros do MST, pois tem nos ensinado muito, de alegria, espírito de luta, e eu compartilhava, que nós, a princípio da revolução, tínhamos essa mística que tem MST, essa mística de vida, é algo presente todos os dias em meio as lutas diárias. Sua organização de trabalho alterna sempre com alegria”.
Valter Leite, dirigente nacional do setor de educação do MST destaca a importância da formação. “Nós temos o direito de se desenvolver plenamente, intelectualmente, esteticamente, corporalmente, artisticamente em todas as dimensões humanas, e isso foi sendo negado pra nós. Sabemos disso e lutamos para romper essas cercas, e mesmo a gente tendo escola na comunidade, mesmo a gente ocupando a terra, tendo assentamento, isso segue sendo negado, e esse trabalho da La Colmenita, o trabalho com as crianças sem-terrinha, o trabalho da educação do campo, e o trabalho com a cultura sem-terra, sem dúvida, aqui está a prova, que se nós temos o acesso, nossas crianças se tornam grandiosas demais humanamente”.
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“A maior grandiosidade do trabalho dessa semana, não é esse que vimos na peça encenada pelas crianças, mas foi todo o diálogo que tivemos, em torno dos valores humanos, sobre a solidariedade, sobre a humildade, sobre a verdade, sobre ser humano. Sem dúvida esse é o nosso ganho maior, e isso deve ser cultivado diariamente pela escola, pela família, pelos jovens, pelas crianças sem-terrinha. Que a gente entenda que essa formação seja uma semente, um embrião, e seguirmos na luta pelo acesso às condições para que nossas crianças tenham o direito de se desenvolver plenamente, elas têm direito, nós temos direito”, conclui Valter.
Ivine Sofia Pereira, sem-terrinha de 10 anos, do Assentamento Caldeirão Taquinho/Quixeramobim afirma: “A gente aprendeu muito durante esses dias aqui. Nós estamos muito felizes e gratos pela formação. Essa é a minha primeira vez no grupo de teatro, e todas as crianças que participaram das formações e que apresentaram a peça ‘A baratinha Martina’ estão bem contentes com a oportunidade”, declara emocionada.
Guê Oliveira, militante do MST explica que “a partir do intercâmbio a gente vê a possibilidade de qualificarmos o trabalho que nós já realizamos com a ciranda infantil, mais do que isso, também qualificar nosso processo pedagógico nas nossas escolas com as crianças, com adolescentes e também ampliando para outros espaços do movimento, já que essa experiência nos apresenta um processo de trabalhar com valores, de trabalhar a formação humana. Então é uma experiência que pode irradiar em muitas dimensões formativas”.
Legado Martíano
Para Las Colmenitas, o trabalho é orientado pelos valores humanistas propagados pelo "Apostulo" da Revolução Cubano e pelo desenvolvimento integral e amplo dos seres humanos. Neste trabalho, procura-se sempre estimular as crianças a fazerem o "bem", como uma atividade consciente e cotidiana.
A programação que teve início dia 04 de junho, no Ceará, encerrou na noite do dia 14, com ato celebrativo em homenagem aos 95 anos de nascimento de Ernesto "Che" Guevara. O evento aconteceu no Centro de Formação Frei Humberto e contou com a presença de amigos do MST, parlamentares, militantes de movimentos populares, professores, da Casa de Amizade Brasil Cuba, do coletivo de Médicas e Médicos Populares, entre outros.
Com o intercâmbio, espera-se continuar os processos de pesquisa, formação e experimentação do método de trabalho de "Las Colmenitas", visando a implementação de grupos pilotos de La Colmenita em comunidades da Reforma Agrária no estado do Ceará e em outros estados do Brasil.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Francisco Barbosa